Eugênio de Freitas - MA

EUGÊNIO MARTINS DE FREITAS nasceu em Brejo/MA, em 15 de maio de 1921, filho de Raul de Freitas e Zita Martins de Freitas. Advogado. Lançou vários livros, entre os quais: “Meus Ais”, sonetos, quadras e trovas (1973); “Mais Lágrimas que sorrisos” (1989); “Meus Sonhos em Rimas” (1996). Faleceu em 05 de fevereiro de 2008, aos 86 anos, em São Luís.

Inutilmente me abalo
a interpretar o Destino...
Ninguém transpõe o intervalo             (trova filosófica nº 270 de "A Trova no Brasil")
do humano para o divino!

Falsos doutores me afligem,
na tentativa frustrada
de assegurar-se da origem
do mundo, feito do nada...

- Qual das mães a predileta,

abaixo da Mãe de Deus?

- A que tiver um poeta,

no meio dos filhos seus!

 

Conservo os olhos enxutos,

se penso em tua partida,

árvore má, "por teus frutos,

és afinal conhecida"...

 

Minha alma toda estremece,

quando te vejo a meu lado;

murmuro logo uma prece,

mas não resisto ao pecado...

 

De ti separam-me extremos,

e eu quase olvido-te a face;

mas, se algum dia nos vemos,

o sonho antigo renasce...

 

Não me olhes dessa maneira,

não me perturbes assim...

Vem a meus braços inteira,

ou não te acerques de mim!

 

Que eu faça, um dia, uma trova

que, embora simples, agrade!

E eu veja, em frase mais nova,

alguma antiga verdade...

 

O artista não se contenta

em pintar a própria mágoa;

a dor que ele mesmo inventa,

os olhos seus enche de água...

 

Salta de todos à vista,

não são palavras à toa:

mérito algum se conquista,

apenas se aperfeiçoa.

 

A cruz que arrasto é mais leve

do que as dos outros mortais:

só se paga o que se deve;

nada menos, nada mais...

 

"Quem sente inveja emagrece

ao ver a gordura alheia";

quanto mais rico, mais cresce

a ambição que o desnorteia!

 

Deste círculo vicioso

ninguém se livra um momento:

mais sofrimento - mais gozo;

mais gozo - mais sofrimento...

 

A angústia que se avoluma

oculta os próprios rigores:

não brota lágrima alguma

dos olhos mais sofredores.

 

Papai Noel não existe,

para o garoto indigente,

cujo Natal, sempre triste,

nunca lhe traz um presente...

 

Se a Natureza tem normas,

que ninguém pode alterar,

por que nunca te conformas

e não paras de chorar?...

 

Sinceramente, não ouso

engaiolar passarinho;

é preferível o gozo

de ouvi-lo perto do ninho.

 

Cinzas... é tudo o que resta

dos sonhos de qualquer um,

depois que a data da festa

se torna um dia comum...

 

Minhas paixões, revividas

nos galanteios das trovas,

são brasas, mal escondidas

embaixo de cinzas novas.

 

O gozo que me insinuas,

com teu andar requebrado,

encontra nas frases tuas

o fim do não-começado...

 

Se eu te imagino a meu lado,

não sei que sonho é mais lindo:

se é quando esteja acordado

ou quando esteja dormindo.

 

A seu contato lascivo,

que raramente desfruto,

meus sonhos todos revivo,

na sensação de um minuto...

 

Imperfeições que ela tem

é natural que eu prefira,

aos predicados de quem

nenhuma trova me inspira...

 

Nosso abraço dá motivo

a debate sem repouso:

- É gostoso, mas nocivo...

- É nocivo, mas gostoso...

 

Meu ser, em sonho, desposa

o teu, mulher pequenina,

botão de flor perfumosa,

singela rosa-menina...