FLORISE PÉROLA Castro Vasconcelos nasceu em são Luís, no Maranhão,no dia 20 de dezembro, filha de Anibal dos Santos Castro e Florinda Campos da Silva Castro. Professora,membro da Academia Maranhense de Letras. Seu primeiro livro foi "Cantigas de Ontem e de Hoje"
Às vezes na minha vida,
sozinha, fico a cismar:
- Há tanta ilusão perdida
na mentira de um olhar...
Mãe... inspiração de um Deus
bondoso, amável demais,
doada a crentes e ateus,
tornando os homens iguais.
Quanta gente mascarada,
tentando a dor encobrir;
e quantos, sem usar nada,
conseguem nos iludir!
Na roda cantei ciranda,
carneirinho... tororó...
e como a sorte desanda,
sem roda canto hoje, só.
No céu os lindos balões
são quais estrelas candentes,
iluminando ilusões
de muitas almas descrentes.
Cantigas são como as ondas:
quando uma vai, outra vem;
fazem todas suas rondas,
quebram todas no meu bem.
Saudade - uma luz brilhando
na estrada do coração.
É pensamento sonhando
o sonho bom da ilusão.
Poesia... um arroubo da alma,
encantamento... emoção...
a saudade que se acalma
e consola o coração.
Folhas ao vento, rolando
sem destino, pelo chão.
É bem minha alma chorando,
perdendo toda ilusão.
Ao somares dissabores,
diminui os exageros.
- Se multiplicares dores,
dividirás desesperos!
Vela branca na distância,
em mar revolto, rendado...
é bem minha pura infância,
vogando num triste fado!
Se jorra o sangue na guerra,
que tristeza... que amargor...
- Fugiu a paz cá da terra?
- comece a plantar amor!
Minha terra, esta que eu amo,
esta que me viu nascer,
quanto mais alto a proclamo,
mais tenho para dizer!
Quisera ser o teu bem
e disso me convencer.
E não contar a ninguém,
para ninguém te querer...
De cima da verde serra,
contemplando a natureza,
vi Deus escrever, na Terra,
trovas de rara beleza.
Noel... sonho de criança,
de gente grande também,
que não perdeu a esperança
de querer mais do que tem.
Floriu a linda roseira,
deu flores em profusão,
e jogou, toda faceira,
seu perfume pelo chão.
Em teu olhar há vitrais
de azulejos faiscantes;
pórticos de catedrais,
arrebol de sóis amantes...
Meu beijo nos teus cabelos,
nas tuas faces mimosas,
foi colibri de desvelos,
adejando sobre rosas.
Parecendo mil farrapos
de iguais balões coloridos,
os sonhos tambem são trapos
se não podem ser vividos.
Da seca do meu Nordeste
todo mundo ouviu falar,
mas ninguém contra essa peste
conseguiu algo inventar!
E quanto mais vai passando
o tempo da meninice,
recordações vão sobrando,
para contar na velhice...
No imenso palco da vida,
todos nós somos artistas;
- Há muita cena fingida,
nem todos são repentistas.
Cuidados quem não os teve?
Quem carinhos não colheu?
- Só meu amor nunca teve
desvelos que dei ao teu...
A antiga questão da idade
com mulher não se discute;
nem sempre a insana vaidade
o velho bom senso ilude.
Jesus, Maria e José!
E entre palhas e animais,
surgiu o quadro da Fé,
o mais belo dos vitrais!
Muita gente, como um disco,
diferentes faces tem,
e toca sem nenhum risco
o lado que lhe convém...