MANOEL E VAN GOGH - em 07.02.2012

  Beatriz Xavier Flandoli  

          A cidade era Nova York e o museu, o Guggenheim. Fiquei paralisada à frente do primeiro Van Gogh que vi: muito jovem, atônita pela impressão de não poder entender o que sentia. E como não conseguia dar nome àquele instante, fiquei ali, saboreando a imagem e tentando racionalizar sobre as sensações que a arte produzia em mim.

          Anos depois, recordo aqueles momentos diante de uma natureza morta ao ler Humano, demasiado humano, de Nietzsche: “Origens do gosto pelas obras de arte: entre populações selvagens encontra-se primeiramente a alegria de poder entender o que o outro quer dizer”.

          “Ah!”, pensei. “Então deve ser isso.” E tentei me consolar com o filósofo, mesmo sentindo que entender, que é bom, não conseguira, não.

          Daí encontrei Manoel de Barros, o poeta, e, no Livro das ignorãças, ele explicou direitinho:

          “Um girassol se apropriou de Deus: foi em Van Gogh”.

          Obrigada, poeta!
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BEATRIZ XAVIER FLANDONI é Psicóloga e Mestre em Educação. Professora de Psicologia na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campus do Pantanal, em Corumbá. Doutoranda em Educação pela UFMS/Campo Grande.