J. Monte Lopes - Cabo/PE

       J. MONTE LOPES 
nasceu na cidade chamada Cabo, em Pernambuco. Residiu em João Pessoa. 

Cristo morreu numa cruz
mas não viu morrer Maria!
Eu sofri mais que Jesus:
vi minha mãe na agonia!

Quando, ao fim da carta, ainda
vou dedicar-te outro beijo,
com ciúme o papel finda
e esgotada a tinta vejo.

A saudade - é a última chama
do sol, ao morrer do dia...
Saudade - o olhar de quem ama,
fitando a casa vazia!

Saudosa mãe, me conforta
ver-te viva quando sonho!
Acordo e sei que estás morta...
Mãe, como acordo tristonho!

Na verdade, eu vivo como
misto de vate e de monge;
ao cais da ventura assomo,
mas a nave passa longe.

Só no sonho tenho-a perto,
só no sonho ela delira...
Ah, se o sonhar fosse certo
e a realidade - mentira!

Quem só vive entre a fartura,         (premiada em Campos/RJ em 1979)
quem tudo fácil obtém,
não tem do pobre a ventura
de sonhar com o que não tem.

Abaixo, um soneto do J. Monte, sobre o interessante mote chamado "Plágio":

..........................................................
A TROVA E O PLÁGIO

J. Monte Lopes

 Para a trova compor, muito cuidado 
 em ser traído pelo inconsciente. 
 Às vezes, leu-se a trova no passado 
 e dela não se lembra, infelizmente.

 Até que, certo dia, de repente, 
 faz-se uma trova no papel ao lado, 
  pensando seja própria a idéia em mente, 
 sem entender que está equivocado.

 E o poeta, então, julgando ser o autor, 
 sentirá desencanto e grande dor 
 ao descobrir que a trova é de outro vate.

 É o plágio involuntário. Diferente 
 do plágio contumaz e consciente 
 que o verdadeiro crítico combate.