GAMALIEL BORGES PINHEIRO, filho de Antonio José Borges Pinheiro e Anna Macuco Pinheiro, Professor, Advogado e Delegado de Polícia, nasceu a 20 de março de 1921, na localidade de Água Preta, município de Itaocara / RJ. Casou-se com Geni da Mata Pinheiro e foi pai de Jefte e Kátia. Foi também Vereador em sua cidade natal. Publicou, em 1961, o livro de trovas "Visão do Meio-Dia". Tem trovas inseridas nos famosos livros "Meus Irmãos, os Trovadores", de Luiz Otávio, e "Trovadores do Brasil" e "A Trova no Brasil", de Aparício Fernandes, entre outros.
A insegurança, a tristeza
dos que se dizem ateus
é nunca terem certeza
da inexistência de Deus!
Para amenizar o estio
de jornada tão sofrida,
vez por outra nasce um rio
no deserto desta vida.
De palavras más, infensas,
trago os ouvidos vazios,
pois jogo fora as ofensas,
guardo só os elogios.
As fluentes, cristalinas
cataratas dos teus beijos
fazem girar mil turbinas
da usina dos meus desejos.
Parece que, sem comando,
para chegar neste ponto,
de tanto viver rodando
o mundo já ficou tonto.
Vivido, bem tarimbado,
que experiência expressiva:
já vi o orgulho humilhado,
já vi a humildade altiva.
Uma estátua a humanidade
deveria, solidária,
erguer em cada cidade
à professora primária.
Em meio às lutas da vida
afirmo-te compensado:
nosso casório, querida,
tem sido um longo noivado.
Pela vida entre perigos
dos caminhos percorridos,
tive nobres inimigos
e tive amigos fingidos.
Do meu filho, homem formado,
eu conservo na retina
de alegre pai deslumbrado,
o guri vivo e traquina.
Numa alternância vadia,
a vida atira em meu rosto
um minuto de alegria
para um ano de desgosto.
Entre uns e outros abalos
de escaladas e descidas,
posso ver nos intervalos
toda a beleza da vida.
Tomba o trono, a majestade,
a glória em breve se vai,
mas do cimo da humildade,
meu amigo, ninguém cai.
Na luta do pensamento
o que se torna empolgante
é que, no fraco, o talento
pode torná-lo um gigante.
À falta de inteligência,
são argumentos de estulto
o destempero, a violência,
a gritaria, o tumulto.
Do pensamento em conflito
ressalta a ideia serena:
ao mundo sofrido e aflito
vim somente pagar pena.
Paraíba caudaloso,
nas tristes tardes de estio
sinto um murmúrio queixoso
nos marulhos deste rio.
Quem sabe fazer alarde
a sua fama constrói,
por isso há muito covarde
condecorado de herói.
Da vida de toda gente
quis o medíocre saber;
e a si mesmo, que era urgente,
não tratou de conhecer.
Ante a dor do desgraçado,
quem se faz indiferente
tem o ouvido calejado
e a consciência dormente.
Mais do que o verbo inflamado,
me encanta, nas assembléias,
os grandes prélios travados
no terreno das ideias.
Por-me-iam desnorteados
seus trejeitos atrevidos,
se eu não fosse vacinado
contra amores proibidos.
Por mais negro e perigoso
que seja o mundo, nós temos,
em Deus, um sol luminoso,
para os momentos extremos.
Musicando o riso e o pranto,
minha Itaocara aprendeu
as doces aulas de canto
que o Paraíba lhe deu.
Como o sábio é ponderado,
comedido, tolerante,
o néscio é precipitado,
oco, vaidoso, arrogante.
Vai-se o dia sem promessa,
uma folha a mais caída,
o outono chega depressa
ao bosque de nossa vida.
Viúva, no inverno da vida, *
sem carinhos do vovô,
vovó, no canto, esquecida,
coitadinha, faz tricô.
Até agora, meu bem,
ao certo saber não pude
se teu carinho faz bem
ou se me agrava a saúde.
Esta moda divertida
na mulher mais se acentua:
velha e feia - bem vestida;
bela e jovem - quase nua!
A tua boca precisa
de levar esparadrapo,
para ver se imobiliza
a tua língua de trapo.
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* compus uma despretensiosa réplica à trova acima, da vovó viúva fazendo tricô.
Mas isso era antigamente!
Hoje, com riso maroto,
vovó anda tão pra frente,
que só quer namorar "broto"!
JOSÉ OUVERNEY