Aprígio Nogueira - Pouso Alegre

Aprígio Nogueira nasceu em Machado, no sul de Minas Gerais, no ano de 1928. Trovador muito talentoso e espirituoso ao extremo. Residiu em Belo Horizonte mas tem seu nome ligado por mais tempo à UBT de Pouso Alegre. Faleceu aos setenta anos, em outubro de 1998.

Quando eu morrer, solidão,
quero chuva no jardim,
para sentir a ilusão
de alguém chorando por mim!

Saudade parece praga,
parece mato insistente: (Fonte: "O Ubeteano")
mato que nasce da vaga
da flor que morreu na gente.

Se moras no céu, querida, (co-vencedora UBT Rio de Janeiro - 1986)
tão longe dos olhos meus,
é a primeira vez na vida
que sinto inveja de Deus...

Ajude-me a suportar
a minha vida, Jesus:
- fique um pouco em meu lugar, (co-vencedora UBT Rio de Janeiro - 1986)
me deixe um pouco na cruz...

Tanto em teu rastro, querida, (Fonte: "O Trovadoresco")
meu coração se perdeu,
que quando cais, pela vida,
quem se machuca sou eu

O amor é um sol diferente
cuja luz nos faz achar
o pedacinho da gente
que nasce em outro lugar!

És a maior das mulheres,
quando a renúncia, querida,
te faz dizer que não queres (M. Honrosa São João da Boa Vista 1995)
o que mais queres na vida!

Tanto ao Mandu me associo (Pouso Alegre 1997)
por termos rotas vizinhas,
que a epopéia desse rio
tem muitas estrofes minhas.

O céu é longe, porém,
uma coisa descobri:
pelo caminho do Bem,
esse longe é logo ali.

Lá longe, quase defronte (M. Especial Pouso Alegre 1997)
de alguma divina serra,
fica a linha do horizonte
costurando o céu na terra.

A mulher é um livro lindo
mas de estranha redação,
que o homem folheia rindo,
sem saber a tradução...

HUMORÍSTICAS

Cabra guloso e nefando
foi o cabra Zé Ramiro
que faleceu mastigando
o seu último suspiro!

Embora invertendo o nome
do que lhe dás por almoço,
teu cão não ilude a fome,
pois osso, invertido... é osso!

Minha sogra bateu asa
quando, com muita cautela,
pus um retrato, lá em casa,
da finada sogra dela...

Tudo é “trem” no meu Estado, (co-vencedora em Belo Horizonte - 1990)
e é por isso que a patroa,
por me ver aposentado,
me chama de “trem à toa”!

Os peões desse rodeio    
chegaram com tanto embalo,  
que cinco mocinhas - creio -
já “caíram do cavalo”...
 
Com salário tão velhaco
não posso - o pobre assegura -
construir o meu barraco  
nem na “ rua da amargura”.
 
Preso ao galho, aquele dia,
Seu Juca só deu trabalho,  
pois queria e não queria
que a gente “quebrasse o galho”.
 
O Doutor, com voz avara,   
vendo o pobre, diz ao cura:           
Seu Cura, confesse  o cara, 
que esse cara não tem cura.
 
"Abre , meu bem, a janela, 
 me esquenta que a neve cai..."
 Quem abriu foi a mãe dela, 
 quem me esquentou foi o pai!