Magdalena Léa - Rio de Janeiro

     MAGDALENA LÉA nasceu em São Cristóvão, RJ, em 30 de agosto de 1913, filha de José da Silva Barbosa e Maria Coutinho Barbosa. Psicóloga, pintora, escritora de literatura infanto-juvenil, era casada com o Gal. Micaldas Corrêa. Teve cinco filhos, oito netos e doze bisnetos. Lançou em 1978 o livro "Quem tem Medo de Envelhecer?"  Como trovadora premiadíssima e engajada ao Movimento desde o seu início, também editou dois livros: "Trovas Que Eu Vivo a Cantar" e "Trovas Escritas na Areia". Mas o seu primeiro livro foi um romance: "Feia", escrito em 1950, mas que só foi editado, de surpresa, pela família, quando a autora completou 87 anos. Magdalena - pessoa queridíssima no meio trovadoresco, partiu no dia 12 de junho de 2001, coincidentemente na data em que seria o aniversário de seu esposo.

Magdalena no programa "Sem Censura"-1986:  http://www.youtube.com/watch?v=yVbd9JNrlXg 
Magdalena, entrevista por Nelson Motta - 1982: http://www.youtube.com/watch?v=yVbd9JNrlXg

TROVAS LÍRICAS / FILOSÓFICAS

Tendo ao seio o meu menino,
tudo em volta é luz e brilho.
Nem sei mesmo onde termino
e onde começa o meu filho.

Só te peço amor sincero,
e o céu será todo nosso.
Se sou tua -- que mais quero?
Se sou mulher -- que mais posso?

Ah, se eu pudesse saber
qual a mulher que ele quer...
Que não iria eu fazer
para ser essa mulher?!...

Porque teme envelhecer?
Envelheça, a fronte erguida.
Um ano mais quer dizer
que a vida lhe dá mais vida!

Quando vejo um assassino,
um viciado, um ladrão,
eu adivinho um menino
a quem ninguém deu a mão.

Meu bebê vai caminhar,

estendo as mãos comovida.

Ah! se eu pudesse guiar

seus passos por toda a vida.

 

Vão-se os anos. Iludida,

nesta angústia de retê-los,

vejo que a chama da vida

se faz cinza em meus cabelos.

 

Mesmo em sonhos são fracassos

meus encontros fugidios:

cerro os olhos, abro os braços

e fecho os braços vazios.

 

A mulher é imponderável,

instável, imprevisível,

indócil, imperscrutável...

Não se esqueça: imprescindível.

 

Em vossos olhos nublados,

velhinhos de longas vidas,

há prantos cristalizados

de todas as despedidas.

 

Ele partiu... Hoje, quando

as portas da sala eu abro,

vejo mil velas chorando

nos braços do candelabro.

 

Quando o sol é brasa ardendo

nas terras secas crestadas,

pingo no zinco batendo

é a mais bela das toadas.

 

O amor que teimo ocultar,

sem dizer nada a ninguém,

pudesse te confessar

e apenas diria – vem!

 

Na educação dos pequenos,

belos frutos colherás,

censurando muito menos,

elogiando muito mais.

 

Quando volto ao meu rincão

piso a terra comovida.

 - Cada pedaço de chão

conta um pedaço de vida.

 

Hei de te amar – ele jura –

até velhinho – que lindo!

e ver nossa dentadura

no mesmo copo... sorrindo.

 

Inflação! Que mais eu posso

senão  rir dessa desgraça?

Pois rir é o único troço

que a gente ainda faz... de graça.

 

É nos elos que nós vemos

união e força patentes,

porque é que não aprendemos

esta lição das correntes.

 

Com firmeza e tolerância

educa em justa medida.

São as feridas da infância

que nos marcam para a vida.

 

Ó realidade, não fira

quem sonha e vive contente.

Se uma ilusão é mentida,

enfeita a vida da gente.

 

Para cumprir seu destino

parte meu filho, homem feito.

- E eu guardarei, meu menino,

tua infância no meu peito.

 

Tudo sinto na alma, o enlevo

das histórias infantis.

- Lobato, quanto te devo

da minha infância feliz!

 

Mentes tanto, e nem presumes

que um dia ainda te firas

nestas armas de dois gumes

que são as tuas mentiras?

 

Embora sem alegria

vou cantando nos caminhos.

- Foi essa a filosofia

que aprendi com os passarinhos.
 

Meu amor, que mais desejo?  
Eu só desejo, na vida,
beijar-te e, acabado um beijo,
começar outro em seguida.

 

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HUMORÍSTICAS

Toda mulher que é gorducha
tem um recurso só seu:
ao vestir-se grita – “Puxa!
como este troço encolheu!!!”

Desculpe-me quem puder,
mas a História se enganou:
depois que fez a mulher,
nunca mais Deus descansou!...

Distraída, distraída,
é a mulher do Januário;
ouve à porta uma batida,
tranca o marido no armário!

 

Foi tão engraçada a piada

que a dentadura da zinha,

em tremenda gargalhada,

cai no chão rindo sozinha.

 

Quem dentadura precisa

cuidado com a gargalhada.

Faça que nem Monalisa

que ri de boca fechada.

 

Fazer plástica é bobagem.

Se o tempo nos vai minando...

 - Dar brilho na lanternagem

com este motor rateando?

 

Em zigue-zague na estrada,

guia um “cara” no pileque.

- A curva multiplicada

dividiu seu calhambeque.

 

Minha sogra, aquela bruxa,

num fusca mandando brasa,

e eu fico pensando: – puxa!

com tanta vassoura em casa!

 

Convenções? Que um tolo as ouça!

pois mulher – o mundo zurra –

deve ser sempre mais moça,

mais baixa e também mais burra.

 

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   Quebrando o Protocolo, registramos, abaixo, uma oração daptada por Magdalena Léa, por considerarmos o texto instrutivo e sempre oportuno:

ORAÇÃO PARA ENVELHECER
(Autor inglês desconhecido)
Adaptação de Magdalena Léa

Meu Deus,

Você sabe, melhor do que eu, que já estou envelhecendo e que breve serei mesmo velho.

Livre-me, pois, do mau-hábito de querer resolver o problema dos outros.

Livre-me, também, do mau-hábito de pensar que, porque sou mais velho, sei mais que os outros.

Mantenha-me inteligente, mas não prepotente, e que saiba aconselhar sem dar ordens.

É pena, realmente, que toda a sabedoria que eu acho que tenho, não possa ser aplicada, mas você sabe, meu Deus, como eu preciso manter meus amigos até o fim.

Livre-me de explicar as coisas com excesso de detalhes e dê asas à minha mente, para que ela voe ao ponto capital das questões.

Cale a minha boca de reclamar contra as minhas dores; o gosto de ensaiá-las a cada dia, em cada ano fica mais apurado.

Meu Deus, eu não peço a graça exagerada de sentir prazer ao ouvir as lamúrias do próximo, mas, apenas, dê-me um pouco de paciência para aturá-las.

Não me deixe esquecer a lição de que eu possa estar errado com muita freqüência.

Mantenha-me mais ou menos de bom-humor, mas não quero ser santo, pois os santos são difíceis na comunicação com os humanos.

Porém um velho azedo é obra mesmo do diabo.

É, meu Deus, dê-me a graça de ver boas coisas em todas as coisas e saber apreciá-las. Amém.

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OBS: dados extraídos do site "Velhos Amigos", de Lu Micaldas, filha da poetisa focalizada.