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Rima, som e imagem = A. A. de Assis - texto postado em 16.09.2009
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A professora ditou a palavra e pediu que os alunos a reproduzissem no caderno. Todos escreveram acordam. Ela foi ao quadro e, rindo, grafou acórdão: “Foi esta a palavra que eu ditei”. O objetivo era justamente chamar a atenção para as sutilezas da homofonia. Acordam e acórdão têm igual pronúncia, pelo menos na boca da maioria dos falantes. Daí resulta mais um probleminha complicado para quem faz versos: afinal de contas, compensam rima ou não rima com bênção? Quem levar em conta a imagem, vai talvez dizer que não; quem levar em conta o som, vai talvez dizer que sim. E agora, poeta?... Mandei esta para um concurso e fui “despremiado”:
Na ausência, as horas são eras,
no entanto a volta é uma bênção:
– Os beijos com que me esperas
quaisquer demoras compensam!
O mesmo se deu com esta:
Coragem de gente grande
é aquela em que se distingue
alguém assim como Gandhi,
São Francisco, Luther King!
E também com esta:
Teu beijo, pela internet,
vem sempre com tal calor,
que qualquer dia derrete
meu pobre computador!
Dir-se-ia que, em concursos, a ousadia em rimas é experiência de alto risco, daí ser aconselhável não abusar. Mas alguma peraltice vale sempre a pena. Eduardo Toledo ousou numa bela trova e foi premiado:
“Que os sonhos de Tiradentes
em meus sonhos se derramem,
louvando os inconfidentes:
– “’Libertas quae sera tamen’”!
Aires Montalbo nos legou esta preciosidade:
“Deus sempre, para que o louvem,
dá certas compensações:
– É surdo, mas é Beethoven;
é cego, mas é Camões!”
Carlos Guimarães nos deixou esta graça:
“Vê, Maria Antonieta,
o mal que você me fez:
– tenho perdida a cabeça,
tal qual Luís XVI...”
Vinícius rimou bodoque com plic e ploc, e toques com on the rocks. Daí que eu também dou-me o direito de cometer alguns atrevimentos. Desculpem-me o mau jeito:
Será que é ele (será que?)
fazendo chover estrelas?...
Claro que é ele... é Bilac...
– Só quem ama pode vê-las!
Veja a mata: é lindo o verde;
veja o céu: o azul é belo.
Por que é que então eu vou ter de
manter o humor amarelo?...
Sabido, poupa viagem
o novo pombo correio:
– hoje ele manda a mensagem,
numa boa, por e-mail...
Moderna e esperta, a formiga
à cigarra se juntou:
– uma canta, enquanto a amiga
monta o circo e vende o show...
Como foi, como não foi,
conte dois que eu conto um...
Num belo inglês, diz o boi,
olhando a Lua: moon... moooon...
Andorinha sobe e desce,
sobe e desce, pousa e come...
Sobe, sobe, faz um “s”,
desce, come, sobe e some...
Expôs-se a vaca famosa...
queria que você “visse-a”.
Um que viu gritou: – Gostosa...
isso em bife, que delícia!
Bate-papo de mulher,
nem mesmo Seu Freud entende.
– Um assuntinho qualquer
vira um filme sem the end...
Se o cansaço o desconforta,
recolha-se ao quarto, tranque-o,
e ponha o aviso na porta:
Do not disturb... thank you.
O Detran mais São Cristóvão
são bonzinhos; todavia,
por isso mesmo reprovam
beberrões na rodovia...
– Quem é que mantém teu reino,
ó Lua, se não tens nada?...
– Meu reino, filho, mantém-no
o sonho da poetada!...
Sonho muito, sonho desde
quando bem menino eu era...
Porém hoje o sonho, em vez de
sonho mesmo, é só quimera.
Venha ver-nos vendo Vênus
vagando em redor da Lua...
Vendo-a bela e virgem, vem-nos
o anseio de vê-la nua.
Brasil, preserve a Amazônia,
protegendo-a quanto possa!
Ame-a muito, e sempre, e sonhe-a
bela, rica, verde – nossa!
Abaixe a cabeça: leia;
levante a cabeça: pense.
Quem lê pensando clareia
a mente, e na luz mantém-se.
A saudade é um fascinante
sistema de dvd:
– memoriza cada instante
que eu partilho com você!
Todo bem que ao mundo faz-se
é um passo a mais na subida
que nos leva a, face a face,
ver a Deus na eterna vida.
Na falta de rima rica,
usei mesmo uma chinfrim:
rimei o espirrim da Chica
com atichim... atichim...