ONILDO Barbosa DE CAMPOS nasceu em Cachoeira/BA, em 21 de abril de 1924, filho de Jacinto Barbosa de Campos (também poeta, a exemplo de tios, irmãos, etc) e Maria Madalena de Campos. Por muitos anos foi Redator de "O Jornal", do Rio de Janeiro. Aposentou-se pelo Ministério da Justiça. Publicou cerca de vinte obras, sendo pelo menos seis de trovas. Seu livro de estreia foi em 1955: "Cantigas do Coração" (trovas). Idealizador e co-fundador da ABT - Academia Brasileira de Trova. Por duas vezes recebeu referências elogiosas do poeta polonês Karol Wojtyla, que viria a ser coroado Papa João Paulo II. Um trovador diferenciado. Falecido no Rio de Janeiro em 2002.
Mantendo a alegria acesa,
o teu olhar, tão profundo, (2º lugar no Instituto Campograndense de Cultura/RJ - 1979)
criança, apaga a tristeza
dos olhos tristes do mundo!
A saudade, pensativa,
e alheia ao tempo que avança,
é uma cadeira cativa
onde a velhice descansa...
Saudade, vida da vida
de um sonho que se desfez.
É uma vontade incontida
de sonhar tudo outra vez!
Na fogueira abandonada,
vejo esta imagem, tristonho:
- saudade é a lenha queimada
no fogo azul do meu sonho.
Dona Saudade, velhinha,
bordadeira paciente,
não tem agulha nem linha,
mas borda os sonhos da gente!
Três Marias, três amores
passaram pelos meus dias...
Ficou Maria das Dores,
- a dor maior das Marias!
Sem te esperar, desespero
se te procuro esquecer...
Pois quanto menos te quero,
mais te quero, sem querer!
- Por que a gente engana o tédio
quando a lembrança é ternura?!...
- Porque a saudade é o remédio
de um mal que não tem mais cura!
Correndo, de sorte em sorte,
num desespero crescente,
a gente foge da Morte...
e a Vida foge da gente!...
Por sobre as ondas serenas,
a gaivota, em seu compasso,
é uma tesoura de penas,
cortando o pano do espaço...
A tristeza aqui não mora!
Meu lar, à luz do Senhor,
feito de pedra – por fora,
por dentro é feito de Amor!
Por que o olhar de mãe, se ingrato
é o filho, nunca o magoa?!
- Porque revela o retrato
do coração que perdoa!
Fui vaqueiro... hoje, sou monge!...
Minha saudade, depois,
ficou mugindo... lá longe...
na voz dolente dos bois!...
É libertando a saudade,
quando me encontro contigo,
que estendo a mão da amizade
para prender um amigo!
Sou trevas!... Mas, se, a contento,
bebo luzes... ao bebê-las,
no luminoso momento,
eu viro noite de estrelas!
Para o céu te levaria,
em troca do teu carinho,
se me ensinasses, Maria,
onde começa o caminho...
Cegos de amor, desprezados...
por este mundo de Deus,
meus olhos vivem fechados
depois da fuga dos teus!
A vassoura do bom vento
é aquela que varre, enfim,
das ruas do pensamento,
o pensamento ruim...
Deus, trovador que se espelha
na inspiração mais ditosa,
compôs a trova vermelha
e deu-lhe o nome de rosa.
- Por que dormir docemente,
num travesseiro sem fronha?!
- Porque a humildade da gente,
quanto mais dorme... mais sonha!
Nunca se apresse à conquista
de alguém de muita promessa...
que o amor, à primeira vista,
foge da vista, depressa!...
A santa que mais incenso,
minha mãe, já bem velhinha,
sem que eu lhe diga o que penso,
meu pensamento adivinha...
Castigo é ter, apertado
entre as mãos, na despedida,
um lenço todo molhado
no cais-do-porto da Vida!
Teus olhos, cor de esperanças,
fogem... Teimoso, os persigo!...
- Parecem duas crianças
brincando de amor comigo.
- Por que matar um Poeta,
se é irmão de Deus! quer viver!...
- Porque a Morte, analfabeta,
seus versos não sabe ler!
Sábio é toda criatura
que vive, com inteligência,
colhendo a espiga madura
do milho da experiência!
Por que vive desvalida
minha alma, em seu desempenho?!
- Porque te dei minha vida
e a tua vida não tenho!
- Por que não se firma em pé
a alma descrente... abatida?!
- Porque, em se perdendo a Fé,
perde-se a vida da vida!
- Quem é Deus?! Ninguém, no mundo,
ao certo dirá! Por quê?
- Porque é o Mistério profundo
que a gente vê... mas não vê!