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A UBT PEDE SOCORRO
(texto de J.B. Xavier, publicado no Boletim Nacional, edição de agosto/2016)
Pede, mas quase ninguém ouve! Explico:
-Toda vez que tiramos algo de seu estado de inércia, isto significa mudança, portanto, tiramos também pessoas de sua zona de conforto.
2-Toda vez que tiramos pessoas de sua zona de conforto, há resistência em vários graus.
3-Por conta da ousadia da Presidente Nacional em fazer o óbvio necessário à modernização da UBT, mexeu-se em sua zona de conforto e houve turbulência que gerou resistência. Essa resistência não foi muito ampla, mas foi intensa o bastante para jogar água fria numa fervura que pretendia ser inovadora.
Graças a essas resistências, eu mesmo fui taxado de «truculento» por uns e de estar tentando transformar a UBT numa empresa, por outros. Mas, digam-me como encarar a polêmica que o caso «novo trovador» causou? Como é possível alguém se opor a um processo de inclusão de caras novas nas festas cada vez mais vazias?
Sobre a «UBT-Empresa» cito um evento recente, os Jogos Olímpicos. Compare-os com a Trova. De um lado, estão os atletas (trovadores) tentando dar o seu melhor (a mais linda trova possível). Do outro lado está o COI - uma administração que coordena e monta toda a logística para que os jogos aconteçam (UBT). Os jogos existiriam sem a logística? Sim, mas seria uma baderna. A Trova existiria sem a UBT? Sim, mas perderia boa parte do encanto que o zelo da UBT proporciona.
4- É preferível a resposta errada para a pergunta certa, que a resposta certa para a pergunta errada. Vejam, estamos perguntando há décadas:
‘como podemos trabalhar pela trova?
E respondendo corretamente a esta pergunta, temos atuado divulgando a Trova tanto quanto possível. Palmas para os que divulgam a Trova, mas, apesar do esforço, a UBT não cresceu por conta disso. Ao contrário, está diminuindo a olhos vistos. Hoje somos meros 350 filiados no país. Ora, o que está errado? A pergunta, é óbvio! E se perguntássemos: "como podemos trabalha pela UBT?" Isso mudaria tudo! Não iríamos mais divulgar a trova, mas sim, a UBT, que teria como sub-produto, a divulgação da Trova. Quero dizer com isso que nunca mais esqueceríamos de levar para uma palestra dezenas de fichas de inscrição na UBT, e teríamos a missão de sair do evento com os dados cadastrais básicos de TODOS os presentes. Quero dizer com isso que nunca mais faríamos um Juventrova sem que os participantes - alunos e professores - preenchessem essas fichas. Falo de todos os participantes, não apenas dos vencedores. As fichas seriam as inscrições no concurso. No caso do Juventrova de Pinda, devem facilmente chegar a umas seiscentas inscrições. Posteriormente, essas fichas seriam nossa matéria prima para tentar trazer o inscrito para a UBT. É impossível acreditar que em 22 anos do concurso, com média de digamos 300 fichas por ano, ou seja, 6.600 inscrições, não se conseguiria pelo menos 100 trovadores inscritos na seção, ou seja, 1,5% dos que passaram pelo concurso nesses anos todos. Então fiquemos com esta última acepção:
5- Trabalhar pela UBT é trabalhar pela Trova. Trabalhar pela Trova, não é necessariamente trabalhar pela UBT.
Hoje eu entendo por que Izo Goldman era visto com ressalvas pela UBT, mesmo tendo sido ele, a meu ver, a pessoa que mais a amou, depois de Luiz Otávio. Hoje, à luz do que já sei da entidade, posso garantir isso. E com a 5ª acepção, está lançada a âncora deste artigo. Explico:
Eu disse que Izo foi a pessoa que mais amou a UBT, não a Trova. Talvez tenha havido, e até ainda haja, quem ame mais a Trova do que ele, mas ninguém amou mais a UBT do que ele, salvo Luiz Otávio. «E não é a mesma coisa?» - perguntarão alguns. NÃO! E é justamente por conta dessa confusão de conceitos que nossa UBT está envelhecida, e se enfraquecendo a cada dia que passa. Amar a Trova é uma coisa, amar a UBT é outra, como já disse acima. Depois que Izo se foi, não encontrei mais ninguém para falar sobre a UBT, ou que trabalhe pela UBT. Ninguém com quem se possa trocar idéias sobre estratégias de crescimento ou mesmo manutenção da entidade. Ninguém com idéias inovadoras, frescas, capazes de trazer a entidade para o presente, que era o que, provavelmente, faria Luiz Otávio. Encontro sim, quem fale sobre Trova. Vejo a toda hora pessoas se orgulhando de suas esporádicas palestras em algum colégio, ou clube ou academia de letras, faculdade ou seja lá aonde for.
Por favor, leitores, não pensem que não aprovo essas ações. Ao contrário, aprovo-as veementemente, porque são essas ações que divulgam a Trova.
Essa é precisamente a questão! Divulgam a Trova, não a UBT!
Mesmo ações mais abrangentes, complexas e trabalhosas, como a realização do Juventrova, pela Sessão Pindamonhangaba, que reúne a cada ano uns 30 colégios, ou o Trova na Escola da Sessão Ribeirão Preto, que tem a trova ministrada no currículum escolar, por lei!, ou a participação escolar que integra vários colégios em um concurso de trovas, realizado pela Seção Taubaté - todos no Estado de São Paulo - fazem quase nada pela UBT! Os que ficaram zangados com este último parágrafo, que me digam, como está a UBT, em termos de associados nessas três sessões? Acreditem se quiserem: em 22 anos de existência do Juventrova, mais de quinze anos em Taubaté e Rib. Preto, não houve sequer UMA UNICA adesão à UBT vinda desses programas. As sessões citadas, ao contrário, penam por falta de filiados. A Trova vai bem, obrigado, nesses locais, mas a UBT passa por maus bocados.
Cito Pinda, Taubaté e Rib. Preto, por acaso, mas a rigor quase todas as seções do Brasil estão no mesmo caso. Nestas, os presidentes, José Valdez, Luiz Antonio - juntamente com a Angélica e Nilton Manoel, respectivamente, penam praticamente sozinhos, e nem reuniões regulares tem, por falta de trovadores filiados. No entanto, todas tem suas festas anuais religiosamente realizadas, e nelas vemos alegres e saltitantes trovadores felizes da vida, festejando a confraternização que essas festas promovem, fazendo de conta que não percebem que, a cada ano, elas estão mais vazias! A cada ano morrem inúmeros trovadores, pilares da UBT. Por acaso há alguém frequentando essas festas nos lugares de Hermoclydes, Costa Val, Izo Goldman, Abbud, Ellen Novais Felix, Marina Bruna, Ademar Macedo ou José Lucas de Barros?
Então sou contra as festas? Não, absolutamente! Elas são o último bastião que ainda mantém relativamente unida a UBT e lhe fornece um sentido nacional. Não fossem elas, a UBT já teria se segmentado. O que temos que mudar é o nosso velho e batido discurso «vamos arregaçar as mangas e trabalhar pela Trova!» Isso não é necessário, ou se preferirem, não é prioritário! A Trova existiu - e bem - sem a UBT, por 800 anos! Então não se preocupem, a Trova não vai morrer. E os exemplos se somam: Em Bauru-SP a delegada é Ercy Maria Marques de Faria. Ela é extremamente conhecida pela excelência de suas trovas e pelo trabalho que executa na divulgação da Trova, apesar de sua conhecida deficiência visual. Ela expõe trovas nas árvores da praça central da cidade, e pelo Natal, na Rodoviária. Ela até já conseguiu que a cidade construísse a ‘Praça dos Trovadores’, e no entanto Bauru não consegue trovadores suficientes para fundar uma sessão!
Parece claro então que precisamos é trabalhar pela UBT!, porque se continuar no atual ritmo de desaparecimento de trovadores renomados, chegará um momento em que a entidade, embora continue existindo, não terá mais substância nem representatividade. Para se ter uma idéia do que digo, Domitilla descobriu dois enclaves da UBT em cidades nada pequenas, ao contrário, falo das duas maiores capitais do Nordeste: Salvador e Fortaleza. Em ambas a UBT sobreviveu inacreditáveis quarenta anos sem praticamente nenhum contato com o comando nacional. E o curioso é que ambas mantiveram todos os cânones, regras e princípios deixados por Luiz Otávio, e, miraculosamente, se reunindo durante todo esse tempo! Falo de duas cidades com milhões de habitantes cada uma! Que amor é esse pela UBT que permitiu a desconexão de capitais dessa importância?
No caso de Fortaleza, que visitamos no dia 6 de agosto passado, ficamos, Domitilla e eu, vivamente impressionados pela euforia como fomos recebidos, e nos informaram que nunca um Presidente Nacional da UBT pôs os pés no Ceará! E mesmo assim, lá está talvez a mais bem estruturada UBT do Brasil, à exceção do Estado de São Paulo, e talvez, de sua congênere nordestina, comandada pelo Prof. Garcia. Pasmem! No Ceará há mais sessões e delegacias do que há em Minas Gerais, ou em Santa Catarina, ou, Paraná ou Rio Grande do Sul, Só para citar alguns dos estados tidos como carros-chefe da UBT. E isto sem que ninguém do Sul jamais tenha dado a menor bola para o que estava acontecendo lá. Não é que lá haja muitas sessões e delegacias, mas nos Estados citados há menos ainda! Como pudemos ter chegado a esse ponto? Tampando o sol com a peneira e fazendo de conta que não estamos desaparecendo. No Ceará conhecemos pessoas entusiastas, como Vicente Alencar, Presidente da sessão Fortaleza, ou Francisco José Moreira Lopes, Presidente Estadual, ou a Delegada Anamaria Nascimento, ou o Presidente Estadual de honra, Gutemberg Liberato de andrade, animadíssimo, apesar de seus problemas de deambulação. Liberato e sua esposa, Argentina, talvez sejam os mais conhecidos no Sul. Lá eles tem um local para se reunir, a Casa de Cultura Juvenal Galeno e ficaram contentíssimos com a visita da Presidente Nacional.
Então vamos relembrar: Trabalhar pela trova é uma coisa. Fazemos isso quando ministramos palestras, quando fazemos festas, quando lançamos concursos etc. Trabalhar pela UBT é outra coisa. Trabalhamos pela UBT quando levamos uma ficha de inscrição para as palestras e cadastramos os ouvintes, quando, ao final do concurso Juventrova, ou outro qualquer temos à mão uma pilha de fichas de inscrição que nos permita contatar os participantes e convidá-los a fazerem parte da UBT. Seria trágico, se não fosse ridículo que nenhum desses programas de trova aos jovens não tenha conseguido trazer para a UBT um único trovador! Os concursos estão errados? Não! Claro que não! Os colégios fazem a sua parte: aderem. Os professores fazem a parte deles, divulgam, coordenam, corrigem, e organizam os resultados. Nós da UBT, é que não fazemos a nossa parte, a parte mais fácil, diga-se de passagem, que é cooptar os participantes para as hostes da UBT.
E assim os anos vão passando e nós, da UBT, parecemos o sujeito que está caindo do vigésimo andar e ao passar pelo décimo diz: «até aqui tudo bem!». Há algum tempo, fazíamos um balanço, a Presidente Nacional e eu, no qual constatamos que tudo o que poderia ser feito na base da «canetada» pela UBT, para modernizá-la foi feito. Ou seja, tudo o que dependia da decisão dela apenas, foi feito. 15 pessoas era demais para fundar uma seção? Ok, agora são apenas cinco! Muitos reclamavam de que faltava um CNPJ, seja para dar legalidade à instituição, seja para nos candidatarmos a possíveis patrocinios, estatais ou não.Ok, o CNPJ já existe! A queixa dos presidentes estaduais era a falta de dinheiro para representar a UBT no Estado. OK, a atual administração fez algo que sempre esteve nos estatutos, mas que nunca foi cumprido: repassou dinheiro para as presidencias estaduais. Certo, algumas receberam quantias irrisórias, mas que são rigorosamente proporcionais à arrecadação de seus respectivos estados. Precisa de mais dinheiro? desenvolva a UBT em sua área de atuação e haverá mais dinheiro para distribuir. Faltava coesão na administração nacional da UBT? A atual administração fez o que nenhuma outra anterior fez: promoveu dois encontros nacionais de presidentes estaduais, (CONAPREST) em 2013 e 2014, em São Paulo. A primeira só com estadia grátis, e a segunda com estadia e passagens grátis. E só não realizou a terceira, em 2015, porque o principal objetivo das duas anteriores não foi atingido. O principal objetivo da CONAPREST era executar o plano de ação que a Presidência Nacional aprovara, e que tinha por meta, promover a expansão horizontal e vertical da UBT, ou seja aumentar seu quadro de associados tanto entre pessoas maduras, quanto entre os jovens. O plano foi levado à CONAPREST pronto para ser executado, e não havia dificuldade alguma em implementá-lo. Bastava que tivéssemos enviado uma carta de apresentação da UBT às academias de letras, às organizações da terceira idade, e aos educandários do Brasil inteiro. Foram estes os três alvos visados pelo plano de expansão. Sob orientação da Presidente Nacional, elaborei três cartas de apresentação a cada uma dessa entidades, e ela foi entregue aos presidentes estaduais, com a orientação de que as repassassem às delegacias e sessões, que por sua vez, as enviariam ao público-alvo, previamente selecionado após uma pesquisa. A expectativa da UBTN era de que pelo menos 500 dessas cartas fossem enviados aos três alvos, por Estado. Sem contar o Nordeste, seriam seis presidencias estaduais a enviar as tais cartas de apresentação, o que totalizaria 3600 cartas enviadas. As cartas eram uma apresentação da UBT, que terminava por solicitar uma visita ao estabelecimento, afim de detalhar o que é a União Brasileira de Trovadores e como ela pode auxiliar no desenvolvimento das atividades do contatado. Projetamos que cerca de 20% das cartas enviadas dariam retorno, interessando-se por uma apresentação nossa, ou seja, 720 entidades. Projetamos também que desses 720 retornos, 10% aceitariam fazer uma experiência de um concurso de trovas, ou seja, 72 entidades. Admitimos ainda que haveria cerca de 30 participantes por concurso, ou seja, 2160 pessoas. Como podem ver nenhum desses números está fora da realidade.É virtualmente impensável admitir que de 2160 participantes, não conseguiríamos trazer para a UBT pelo menos 10% deles, ou seja, 216 pessoas. Só isso já quase dobraria o tamanho atual da UBT.
Agora pense nisso: 500 cartas para os três alvos, são números extremamente modestos, visto que apenas a cidade de São Paulo tem quase dois mil colégios, e muitas instituições de terceira idade. Eu próprio e a Presidente Domitilla, já ministramos aulas na UATI - Universidade Aberta da Terceira Idade. Agora pense em Porto Alegre, Curitiba, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, apenas para ficarmos nas capitais,e então 500 cartas torna-se um número realmente modestíssimo, se considerarmos o que deve haver de colégios, academias de letras e instituições da terceira idade, em todo o Estado do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Rio de Janeiro e Minas Gerais. E tem ainda todo o Nordeste - Fortaleza, Rio Grande do Norte e Bahia, que nem estão entrando nessas projeções. Mas aí aconteceu algo que não estava planejado, porque nunca imaginamos que algo assim aconteceria: NENHUMA CARTA FOI ENVIADA! NENHUMA! Nada aconteceu. Absolutamente nada.
Sempre pensei, e a Presidente Nacional também pensou, que havia uma predisposição latente de trabalhar pela UBT. Tínhamos certeza de que se alguém indicasse um caminho, ainda que não fosse o ideal, todos juntariam esforços naquela direção, mas vimos que não é bem assim. Acabamos aprendendo que todos adoram promover a Trova, mas são raros os que trabalham para promover a UBT. Na Segunda CONAPREST, em 2014, cobramos isso dos presidentes estaduais, e esperávamos durante aquele ano que finalmente o planejamento saísse do papel. Debalde. 2014 passou, passou também o 2015 e nada aconteceu! Então joguei a toalha. Percebi que estava perdendo meu tempo. O gosto amargo da derrota, por não ter conseguido catapultar a UBT, como havia prometido à Presidente Nacional, descia pela garganta em difícil deglutição. Meu tempo na UBT havia acabado.
Não gosto de derrotas, especialmente quando a vitória depende muito mais de transpiração do que de inspiração. Então veio o segundo mandato de Domitilla B. Beltrame, e ela me pediu que reconsiderasse minha decisão de deixar a UBT, porque queria tentar mais uma vez. E aí estamos, com a janela da oportunidade de 2016 já se fechando, sem que nada tenhamos feito em prol da UBT. Sim, porque pelo menos os estabelecimentos de ensino caminham para o final do ano, período em que tanto o corpo docente como o discente tem preocupações mais urgentes a resolver. E outras perdas vieram e temos as festas cada vez mais vazias de grande trovadores. Até quando? Até quando resolvermos realmente arregaçar as mangas e trabalharmos pela UBT, não apenas pela trova.
Izo Goldman tinha essa visão de futuro e a noção exata do que ocorria com a UBT. Ele bem que tentou ser ouvido, mas não conseguiu.
E se nem ele, com o prestígio que tinha logrou sensibilizar a entidade para o perigo de sua implosão, o que se dirá de nós, simples bem-intencionados, dos quais aliás, como se diz, o inferno está cheio?
(J.B. Xavier é Secretário Nacional da União Brasileira de Trovadores e editor do Informativo Boletim Nacional da entidade)