ROBERTO FARIA DE MEDEIROS, nasceu em Juiz de Fora, Minas Gerais, em 17 de julho de 1923, filho de João Medeiros da Silva e de Tereza Faria de Medeiros. Professor, advogado, como assessor, acompanhou Itamar Franco desde a Prefeitura de Juiz de Fora (onde ocupou inúmeros cargos) até à Presidência da República. Foi também suplente da Senadora Júnia Marise. Gostava da vida boêmia e notabilizou-se, ainda, como autor de muitos sambas-enredo principalmente. Entre as obras publicadas, uma de trovas: "Cantigas que a Vida Enquadra". Foi um brilhante trovador. Faleceu em 19 de novembro de 1995, ano em que publicou "Cantos e Contos de Minas", em parceria com Carlos Décio Mostaro.
Não há criança vadia...
As que esmolam a teus pés
são anjos que Deus envia,
para saber quem tu és!
Liberdade, a tua essência
sempre exerce este fascínio:
- Quem viveu tua existência
não suporta o teu declínio.
Não faz falta em meu arquivo
o teu retrato, querida:
- A saudade é o negativo
que guardo por toda vida.
Inconstante como as garças,
tu foges ao meu afago,
deixando penas esparsas
na solidão do meu lago.
Dentre os mais belos conselhos,
faço deste a minha fé:
- a ter que viver de joelhos,
prefiro morrer de pé.
Ferido por teu desprezo
nesta noite sem carinho
sou igual cigarro acesso
que vai queimando sozinho.
Do teu beijo estou saudoso,
em que pesem meus ressábios,
porque sei que o mais gostoso
sempre fica nos teus lábios.
Se indagas por novidade,
constrangido, amor, te digo:
em tua ausência, a saudade
resolveu casar comigo.
Nosso amor, ora rompido,
deixou-me assim, neste estado:
triste, por tê-la perdido;
alegre, por ter-me achado.
Nos leilões e nas quermesses
das festas de nossa aldeia,
apesar de minhas preces,
foste prenda em mão alheia!
Arisca, assim como as potras,
sem destino e sem abrigo,
ó Maria-Vai-Com-As-Outras,
por que tu não vens comigo?
Parece o teu coração
com plataforma de trem,
que mal despede os que vão
para abrigar os que vêm.
Teu dia, Mãe, se reveste
dos remorsos que chorei:
pelo muito que me deste,
pelo pouco que te dei.
Meus avós dizem sorrindo:
nem só o pólen dá flor!
- Ternura é seiva nutrindo
o galho seco do amor.
“A bolsa ou a vida” – eu ouço
e retruco as ironias:
- Que leve as duas, seu moço,
pois ambas estão vazias.
Eu faço agora um reparo,
embora você não faça:
- se o nosso amor é tão caro,
por que brigamos de graça?
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