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António José Barradas Barroso, nasceu em Vila Viçosa, terra de Florbela Espanca, em 07 de Outubro de 1934, filho de Joaquim Barroso e Amélia Ema Barradas Barroso.
Estudou no Instituto Militar dos Pupilos do Exército, donde transitou para a Academia Militar. É oficial do Exército, Coronel na situação de reforma, com 12 anos de comissões militares em África (Angola, Guiné e Moçambique).
Publicou em 2014 o livro “… antes que chegue o inverno”. Tem ainda, embora artesanais (tirados por computador), mais os seguintes livros:
- Devaneios de Outono;
- Memórias do tempo que passa;
- Último fôlego;
- Só… só… sonetos;
- Cavalgada de rimas;
- Cascata de versos;
- Versos dispersos;
- Contos;
- Crónicas.
É membro da Academia Cachoeirense de Letras e da Academia Rio-Grandina de Letras. E ainda sócio do Grupo de Poetas Livres de Florianópolis, no Brasil, e dos Confrades da Poesia, em Portugal.
Por muito que sopre o vento,
Por muito que a mão nos trema,
Há sempre um entendimento
Nos versos dum bom poema.
Se entendimento é pensar
Que alguém concorda comigo,
Abro as portas do meu lar
Para acolher um amigo.
O verde que o prado inunda
Tem matizes de encantar,
Que a natureza é fecunda
Se a deixarem respirar.
Natureza sofre e cala
Por não haver solução,
Que o homem apenas fala
E a mata, por ambição.
Eu nada sei, nada valho,
Mas juro p´los santos meus,
Que já vi gotas de orvalho
Que eram lágrimas de Deus.
Uma criança pedindo
Um bocadinho de pão,
Com a lágrima caindo
Na palma da sua mão.
Lágrimas que eu vi chorar
Duma tristeza incontida,
Foram todas ter ao mar
Num longo adeus de partida.
A ciência é natural,
Vai sendo usada em surdina,
Para o bem ou para o mal
Conforme a mão que a domina.
Ciência dá que pensar
Nos comos e nos porquês,
Mas não consegue arranjar
A janta no fim do mês.
A ciência é, com requinte,
Fazer milagre também,
Na mão, saber que estão vinte,
Mas olhar e ver lá cem.
Sem um gesto amigo ou nobre,
Todo o homem, com maldade,
Até vai roubar o pobre
Sem ter dó ou piedade.
Tem piedade, tem dó,
Não andes sempre a meu lado,
Que eu gosto mais de andar só
Do que mal acompanhado.
A fortaleza se mede
No enfrentar da verdade,
Ser forte não é quem pede
Mas quem o dá, de vontade.
Tua vida, minha amada,
É varanda de opereta,
Nem eu sou Romeu de escada,
Nem tu és a Julieta.
Debruçada na varanda,
Em vez de escada ligeira,
Minha amada só me manda
Pôr água na trepadeira.
Se a gaivota, o dia inteiro,
Anda em terra sem voar,
Tem cuidado, marinheiro,
Há tempestade no mar.
Quando chegas, pescador,
Num barco da tua frota,
Escuta canções de amor
No bico duma gaivota.
O Brasil, por sina sua,
Tem samba, tem futebol,
À noite alinda-se a lua,
De dia, mostra-se o sol.
Se Deus colocou, com arte,
Tudo em seu lugar preciso,
Pôs coisas em toda a parte,
No Brasil, o paraíso.
Não tenho medo do Inverno
Quando chega à minha beira,
Pode ser doce e ser terno,
Ao redor duma lareira.
Há gente com pouco amor
Que a primavera não sente,
No entanto, é bem pior
Um Inverno permanente.
Rei idoso, sem ter trono,
Vivendo um sossego terno,
Sinto passar meu Outono,
Mas à espera do Inverno.
Dois velhinhos, paz discreta,
Numa total união,
Ele, para ela, é muleta,
Ela, para ele, é bordão.
Quando o homem se compraz
Em lutas por toda a terra,
O rico almoça na paz,
Pobre não janta na guerra.
Sinto a paz de cada dia,
Recordando os sonhos meus,
E digo, com alegria:
- Muito obrigado, meu Deus!
Este mar que nos abraça
Num abraço bem profundo,
Lembra o tempo em que uma raça
Deu novos mundos ao mundo.
Este mar que nos abraça,
Que era forte e tinha fama,
Por ele, hoje, tudo passa,
Foi dominado por Gama.
Deus deixou-nos um recado
Muito belo, muito sério,
Que o bem é recompensado
No seu mundo de mistério.
Tanto mistério fizeste
Do meu rogo apaixonado,
Que agora que respondeste
Há muito que estou casado.
Mandaste esperar, esperei
Num mistério de anos tais,
Que, sendo avô, já não sei
Se te devo esperar mais.
No sabor duma ilusão
Há tal vaidade incontida,
Que rebenta, qual balão,
Ao menor sopro da vida.
Poeta de olhos risonhos
Tem rasgos de inspiração,
Guardados em doces sonhos
E em seu mundo de ilusão.
Pensamento, ilusão breve
Que não passou de miragem,
Foi um sonho que se teve
Levado na fresca aragem.
Festa de rico é esplendor,
Com traje de cortesia,
O pobre, tão rico de amor,
Faz festa só de alegria.
A mãe sua vida dá
Pelo filho sofredor,
E maior prova não há
Duma dádiva de amor.
Uma dádiva presente
Numa só palavra amiga,
Conforta mais o doente
Da maleita que o castiga.
Se perderes a esperança,
Não percas a fé cristã,
Com amor, perseverança,
Há sempre um novo amanhã.
Por um beijo, sou pedinte,
- Amanhã – dizes – talvez!...
Mas sempre o dia seguinte
Tem amanhã outra vez.
Amanhã será o dia
Em que feliz te farei,
Que hoje ainda não podia
Dar-te o que ontem não te dei.
Tenho um portão no meu lar
Com uma coisa muito boa,
Abre-se, de par em par,
Para entrar qualquer pessoa.
Homem rico co’a mulher
Jantam com todo o requinte,
Mas o pobre, se puder,
Janta no dia seguinte.
Chamam-lhe lei do mercado,
Isto da oferta e procura,
Mas nada me é ofertado
E o que eu procuro, não dura.
No meio de tanto prazer,
Onde o vício é uma voragem,
Para, com fé, se viver,
É preciso ter coragem.
Um amor que sempre dure,
Mas um amor verdadeiro,
Por muito que se procure,
Já não há como o primeiro.
Todo o ser sem importância,
É prepotente, orgulhoso,
Mente com toda a arrogância
Dum ignorante vaidoso.
Acção da bolsa, que louca
Vida que o rico consome,
É pão que falta na boca
Da criança que tem fome.
Tu que escondes o desgosto,
Se és amigo e estás por perto,
Entra em casa, anima o rosto,
Meu portão está sempre aberto.
O teu apelo, mulher,
Foi um deslize fugaz
De quem, de mim, nada quer,
E que, por mim, nada faz.
Um grande apelo de amor
Deu Jesus, na cruz, sofrendo:
- Perdoai-lhes, meu Senhor,
Não sabem que estão fazendo!
Criança, na Primavera,
No Verão, adolescente,
Outono, uma longa espera
Dum Inverno permanente.
Quando a vida faz chorar
Por coisas sem importância,
É, por fraqueza, voltar
Ao tempo da nossa infância.
Jovem, não tens o direito
De insultares meus farrapos,
Tem um pouco de respeito
Porque velhos são os trapos.
De mão dada, pela estrada,
Onde a chuva encharca o trilho,
Sem ter, por baixo, mais nada,
Tira o manto e cobre o filho.
Maria tirou da cruz
Seu filho, lavada em pranto,
E aconchegou Jesus
Ao seu colo, no seu manto.
Quem se acoberta no manto
Que Deus nos mandou, um dia,
Não aspira a ser um santo
Mas vive em paz e harmonia.
Alguém, triste, me dizia:
- Flores de espinhos, formosas?
Mas eu só sinto alegria
Por espinhos terem rosas.
Aquilo que a mente encerra
Com orgulho desmedido,
Bastam três palmos de terra
P’ra deixar de ter sentido.
Um acto de amor será
Dar o que preciso, agora,
Mas muita gente só dá
Aquilo que deita fora.
Dinheiro estica um bocado,
Pena que eu não sei dessa arte,
Pois comigo, bem puxado,
Nunca estica, sempre parte.
Haja, no mundo, a alegria
A que o amor nos conduz,
E muda-se a noite em dia,
Pouca sombra e muita luz.
Se a vida fosse a firmeza
Duma amizade bem nobre,
Tinha sempre, com certeza,
Um rico ajudando um pobre.
Palavras leva-as o vento
Para ouvi-las no caminho,
Porque há sempre sentimento
Em palavras de carinho.
Meu prazer é a poesia
Numa vida de emoções,
Sou contador de magia,
Sonho, quimera, ilusões.
Índices de pessimismo,
Sondagens no meu país,
Só mostram o realismo
Dum povo que é infeliz.
Quadra simples, isolada,
Gerada num só momento,
Pode ser tudo ou ser nada,
Depende do sentimento.
Político usa o soldado
Se dele precisa, um dia,
A seguir, põe-no de lado
P’ra esconder a cobardia.
Ia a passar – e o que vejo –
Uma frase escrita assim:
- P’ra ti, o dobro eu desejo
Do que desejas p’ra mim.
Os homens são tão pigmeus,
Que a pequenez não alcança
Quanto há da mão de Deus
Num sorriso de criança.
Após lauta refeição,
Rico senta-se ao piano,
Conhaque, em copo, na mão,
E um bom charuto cubano.
Quando se fala em conhaque,
O pobre ri da chalaça,
E quase tem um ataque
Se lhe tiram a cachaça.
Rico, na festa, de fraque,
Sopra o cubano p’ro ar,
Bebe um pouco de conhaque,
Solta arroto a caviar.
Pior do que a estupidez
É a mentira moderna
Que só mostra insensatez
Por parte de quem governa.
A pior insensatez
É transformar em pedinte
Quem só ganha dez por mês
Mas que precisa de vinte.
Quando uma e outra vez,
Ao alheio não se resista,
É prova de insensatez
Roubar deixando uma pista.
A insensatez do ladrão,
É desconhecer que, agora,
Se roubar até mais não,
O juiz põe-no cá fora.
Promete mais que uma vez
E não cumpre, o governante,
Já não é insensatez,
É uma mentira constante.
Se a insensatez precisa
Dum exemplo, eu até digo,
Que é prescindir da camisa
Para cobrir um mendigo.
Amizade é uma ventura
Que nos une, que nos prende,
Quando não há, se procura,
Quando existe, se defende.
Amizade é pura flor
Na madrugada nascida,
Regada com muito amor,
Ilumina a nosso vida.
Este amor que promoveu
Minha amizade secreta,
Mais forte é que o do Romeu
Pela amada Julieta.
Amizade é uma certeza
Que, quando regada em flor,
Por força da natureza,
Se transforma em puro amor.
Se foi Deus que assim o quis,
Com tua amizade, eu fico,
Por isso, sou tão feliz,
Que sinto que sou mais rico.
Se a amizade se passasse
Em dar tudo e pedir nada,
Talvez toda a gente andasse
Pelo mundo, de mão dada.
De mostrar-se, não precisa,
Que a amizade age por brio,
Basta tirar a camisa
Para dar a quem tem frio.
Se, por mudar em amor,
Fosse a amizade um pecado,
Eu seria um pecador
Sem querer ser perdoado.
Essa palavra amizade
Que, por Deus, nos foi legada,
É no mundo, raridade
Por muito poucos usada.
O meu cão também é gente,
Quando falto, tem saudade,
Salta e pula de contente
Quando lhe mostro amizade.
É, no cais da despedida
E o lenço branco que acena,
Que a saudade duma vida,
Desta vida tem mais pena.
Partiste a chorar, bem sei,
E eu disse adeus tão absorta
Que, quando os olhos sequei,
Saudade bateu-me à porta.
Quando a saudade vier
Ter comigo, em desacato,
Eu resisto, até poder,
Sempre olhando o teu retrato.
Com saudades, eu me interno
Num jardim que não tem dono,
Vou-me vestindo de Inverno,
Despindo as folhas de Outono.
Saudade assume importância
Num sentimento desperto
Por quem está longe, à distância,
Por quem se ausenta p’ra perto.
Num sentimento frustrado,
Saudade mostra incerteza
Na letra dum triste fado
Com guitarra portuguesa.
Sinto uma fé renascida
Porque já posso entender
Que a emoção duma vida
É ver um filho nascer.
Lenço branco à despedida
Num acenar de aflição,
Na chegada, há nova vida
Carregada de emoção.
Se escuto, com emoção,
O canto das avezinhas,
É Deus que escreve um sermão
P´ra se ler nas entrelinhas.
Meus lábios, nos teus selados,
Disseram que eu te queria,
Limpei-te os olhos molhados
Pois choravas de alegria.
Haja, no mundo, a alegria
A que o amor nos conduz,
E da noite, se faz dia,
Mudam-se as trevas em luz.
Rezavas, naquele dia,
Com tanta doçura, tanta,
Que pensei, com alegria,
De mãos postas, reza a santa.
A sinceridade existe,
E é muito fácil de ver
No rosto, cansado e triste
De quem não tem que comer.
Sinceridade é o retrato
Dum homem honesto e são
Que pode firmar contrato
Com um aperto de mão.
Paciência é uma virtude
Que se tem, mas que se gasta
Quando se toma a atitude
De, para alguém, dizer: - Basta!
Tanta era a sua pobreza
Com humildade e decência,
Que não tinha pão na mesa,
Mas sobrava a paciência.
O equilíbrio, bem honesto,
De, p´ra comer, trabalhar,
É só ter, e sem protesto,
Um pão duro p´ra jantar.
Crer num só Deus, é pensar
Que, numa fé consentida,
Equilíbrio é sempre andar
Na linha certa da vida.
Um equilíbrio, afinal,
Neste mundo maltratado,
É suportar todo o mal
Sem tombar para esse lado.
Homem que não tem emprego,
Todo o trabalho recorda,
E até mesmo, surdo e cego,
Faz equilíbrio na corda.
Velhice apenas sucede
Se a vida não tem já gosto,
Que a idade não se mede
Pelas rugas que há no rosto.
Sou velho, mas sou capaz,
Tenho a idade bem presente,
Se as pernas andam p’ra trás,
A cabeça segue em frente.
Se ao pai do meu pai eu vou
Pedir um sábio conselho,
Não é por ser meu avô,
É somente por ser velho.
Foi na minha mocidade,
Que meu pai sempre me disse:
- Não tenhas medo da idade,
Que a idade não é velhice.
Um velho não é senil,
Todos os dias faz planos,
Jesus há mais de dois mil
Que nasce todos os anos.
Mesmo que a paciência acabe
Precária seja a saúde,
Só a velhice é que sabe
Ensinar a juventude.
Hoje em dia, a mocidade
Tem certezas de tolice,
Não sabe que ter idade
É saber mais, na velhice.
Minha idade corre à solta,
Por, sobre os anos, avança,
Velhice traz-me de volta
Os meus sonhos de criança.
A velhice que tu vês,
Cheia de sonhos, de afectos,
Fez-me criança outra vez,
P´ra brincar com os meus netos.
Foi minha mãe que me disse
Na hora da despedida,
A idade não é velhice,
É o recordar duma vida.
Se a mocidade sentisse
Que o tempo passa, em corrida,
Não era a idade velhice,
Era uma etapa da vida.
A idade é um sol poente
Que vai descendo, com calma,
Mas existe tanta gente
Nova com velhice na alma.
TROVAS DE BOM HUMOR:
- Uma garrafa somente,
É o que tenho de cachaça…
- Não se importe porque a gente
Vai-lhe acabar com a raça…
Se há um lago de cachaça
A correr direito ao mar,
Vejam bem minha desgraça
Porque inda não sei nadar.
Aquele homem que ali passa,
E se agarra ao candeeiro,
Ergue o frasco da cachaça
P’ro seu novo companheiro.
- Cachaça, trinta reais,
Para pão, dois, já se vê.
- Pai, vê bem que isso é demais…
…Pois tanto pão para quê?
Dono do lagar, com mágoa,
Até lhe deu um chilique,
Ao saber que só vinha água
Do tubo do alambique.
Saber, três meses depois
Do passeio do piquenique,
Que em vez de um só, eram dois,
Até lhe deu um chilique.
Chiliques tinham os dois,
Só que domou, com cautela,
O seu chilique, e depois,
Também acalmou o dela.
Um chilique, de raiz,
Por vezes, quando acontece,
Sem falar, ela só diz:
- Olha, amor, não me apetece.
A menina que se fique
Medindo tudo à janela,
Até lhe dá um chilique
Se vir o tamanho dela.
Um homem teso, só quer,
Ao mais pequeno chilique,
Dar porrada na mulher
E abraçar o alambique.
À filha dum pai agreste
Deu chilique, sem aviso,
Por saber que fez o teste
E o mesmo deu positivo.
O chilique é mesmo assim,
Surge numa ocasião
Em que ela diz que sim,
E ele responde que não.
- Dá-me um chilique ao sentir
Que fico a chuchar no dedo!
- Meu amor, eu quero dormir
Que, amanhã, acordo cedo.
A moça teve, coitada,
Vários chiliques, à vez,
Um e dois no vão da escada,
Na cama, ficou-se em três.
- Vá-se embora, seu vadio!
Borracho!...Que desespero!...
Ele ergue o copo vazio
E responde: - Dez? Espero…
O desespero de agora
Vem da mulher com que moro,
Se parte a mãe, ela chora,
Mas se vem, eu é que choro.
Ela, p´ra meu desespero,
Diz que eu devo decidir,
Mas olha p’ra mim, se eu quero,
E eu já não quero, a seguir.
Foi um desespero inteiro
Pois, com muita paciência,
Cacei a filha do banqueiro,
Mas o pai foi à falência.
Marido chegou mais cedo,
Logo ele pulou da cama,
Saltou a janela, a medo,
E fugiu só de pijama.
No carnaval se reclama
Um disfarce diferente
E ela vai pois de pijama,
Mas pijama transparente.
Ela tirou o baby dall,
Ele despiu o pijama ,
Não tiraram o lençol
Pois não chegaram à cama.
- Sou homem, de colarinho,
Ou mesmo usando pijama.
- Marido, fala baixinho,
Que isso não dizes na cama.
Quando o velhinho se inteira
Que ela o chama, quando passa,
O pijama é a maneira
De encobrir uma desgraça.
Tudo eléctrico no lar
Que minha sogra sustenta,
Só falta electrificar
A cadeira onde se senta.
Turista pára um momento
com a sua companheira,
enquanto olha o monumento,
deixa roubar a carteira.
Turista perde o avião,
mas segue noutro, com sorte,
não lhe entregam mala, não,
e perdeu o passaporte.
Turista, finda a viagem,
nota que a esposa se zanga
porque as fotos da paisagem
só tem mocinhas de tanga.
Não há garção que resista
a cair ou dar um tombo,
quando lhe diz o turista:
- Quero um ovo de Colombo!
Quando, a beijar, nos achou,
teu pai, já com certa idade,
só o muro me salvou,
por não ter agilidade.
Fiz um muro de tijolos
dentro da sala de estar,
para atirar aos miolos,
quando a minha sogra entrar.
No muro, teu pai me apanhou
e, com um certo cinismo:
- Que faz aqui? – Perguntou,
e eu respondi: - Alpinismo!
A preguiça é um pecado,
gritam, com certo desdém...
- não quero ser incomodado...
... preguiça sabe tão bem!...
Em maratona renhida
que, num dia, aconteceu,
a preguiça está com vida,
mas a adversária morreu.
Minha sogra era castiça,
não fazia nada, não,
dormia com a preguiça,
com uma garrafa na mão.
Tanta preguiça ele tinha
na mesa daquele tasco,
que, ao arder a barraquinha,
coitado, virou churrasco.
Q Quando eu era rapagão
Pensava, tudo era nosso,
Agora, já cinquentão,
Só tenho aquilo que posso.
Sou cinquentão morenaço,
Gosto de me envaidecer,
A todos digo que faço
O que não posso fazer.
Porque tem de descansar,
O cinquentão mais ousado
Já não bate o calcanhar,
Conquista apenas sentado.
Quando a moça vê o olhar
Do cinquentão à maneira,
Só lhe interessa admirar
O volume da carteira.
Os cinquentões atrevidos,
Esquecendo o que eram antes,
Deixam de ser bons maridos,
Passam a ser maus amantes.
O cinquentão não é velho
Inda que o cabelo pinte,
De manhã, olha-se ao espelho
E até pensa que tem vinte.
Se a próstata tem mazelas,
Cinquentão de barba rija,
Não anda mais atrás delas,
Só é feliz quando mija.
Cinquentão vale por dois,
Acreditem que não brinco,
Façam lá as contas, pois:
- duas vezes vinte e cinco.
Cinquentão tem dentadura
E auricular, que ele adora,
Baixou um pouco de altura,
E o resto vai deitar fora.
Julga já ter conquistado
Toda e qualquer rapariga,
Pois o cinquentão, coitado,
Tem mais olhos que barriga.