Romeu Gonçalves da Silva - Juiz de Fora

     Romeu Gonçalves da Silva, "Magnífico Trovador", - título conquistado em Nova Friburgo em 1982, através das três trovas abaixo, em vermelho - nasceu em Juiz de Fora/MG no dia 08 de setembro de 1914, filho de Manuel Gonçalves da Silva e D. Fortunata Rezi da Silva. Exímio poeta e também declamador, era radicado no Rio de Janeiro. Foi funcionário do IBGE. Consta que teria falecido em 1984.  Suas trovas, conforme o constatarão, são de altíssimo nível, profundas e requintadas.
 

Fim do meu rumo. Eu, grisalho,       (1º lugar em Nova Friburgo - 1980)
dos netos entre os carinhos,
pareço um velho espantalho
cercado de passarinhos.

Não é a vidraça que chora,  
sou eu, que, junto à janela,         (7º lugar N. Friburgo, 1981)
vejo meu sonho lá fora,
correndo louco atrás dela...

Não se livra dos tormentos
quem de chorar se envergonha,    (2º lugar N. Friburgo, 1982)       
quem dá fuga aos sentimentos
e prende os sonhos que sonha!...

OUTRAS TROVAS LÍRICAS/FILOSÓFICAS...

No itinerário das fugas
há temporais e bonanças
que deixam trilhas de rugas           (10º lugar N. Friburgo, 1982)
onde passeiam lembranças...

Das fugas vê se te esqueces,
sem gestos desesperados...
- Pede amor com mãos em preces           (4º lugar N. Friburgo, 1982)
e não com punhos cerrados!...

É um moleque em liberdade,           (Menção Honrosa em Niterói - 1982)
o passado impertinente:
- Solta pipas de saudade
dentro do peito da gente!...

Vivas lembranças colhendo,         (M. Especial em Niterói - 1982)
de uma vida bem vivida,
vou de saudades vivendo
o que me resta da vida...

A saudade machucada
e presa, em meu coração,         (M. Especial em Niterói - 1982)
é uma pipa emaranhada
em fios de alta tensão...

A noite se foi, e agora,
- aquarela sobre o monte -                 (VencedoraNiterói - 1982)
explode em cores a aurora
na tela azul do horizonte!

As noites viviam nuas
e o Senhor, para atendê-las,           ("Moinho" - Menção Honrosa em Niterói - 1980)
moeu pedaços de luas
e encheu o espaço de estrelas!

Em maus rumos quebrei lanças
e a poeira dos cansaços
pousou sobre as esperanças                   (16º lugar N. Friburgo, 1980)
que eu carregava nos braços.

Há corações que são ilhas              (Menção Honrosa em Santos - 1980)
circundadas de rochedos,
transformadas em bastilhas,
para refúgio dos medos...

Turista: em nossas igrejas,            (2º lugar 1º concurso Caxias do Sul 1976)
velhos conventos, museus,
é bem possível que vejas
e, até, que fales com Deus!

Dom Pedro foi rebeldia,
Bonifácio inteligência;
somaram-se os dois, um dia,           (IX Salão Campista de Trovas - 1975)
resultado: Independência"! 

Fecho os olhos: vejo a Terra...      (co-vencedora em Niterói - 1972)
E o medo em mim se insinua.
Vejo luta... Vejo guerra...
Não há mais paz, nem na lua.

Homem, se és justo, perfeito,
e a bondade em ti se vê,
então tu tens o direito
de tratar Deus por você!

O luar das esperanças
já partiu... deixou-te só,
mas o luar das lembranças
brilha em teus olhos, vovó.

Quando o amor nos pega a jeito,
segundo dizem os sábios,                            
o coração sai do peito
e passa a morar nos lábios...

Cansaço e dor o consomem;
o sangue seus olhos veda...
Jesus não resiste – é homem –
e sofre a terceira queda.

Um sobrado com balcões,
a moça e seu namorado;
na rua, dois lampiões:
- cartão postal do passado!

As almas onde a maldade
jamais entrou em eclipse,
lembram bem a potestade
da besta do Apocalipse!

HUMOR DOS BONS!

Zé Cambono no pandeiro,          (trova premiada em Sete Lagoas - 1982)
Zé Caboclo na zabumba,
Zé dos Santos de violeiro...
-Isto é forró, ou macumba?

Da mulata vendo o busto,          (10º lugar Cachoeiras Macacu 1977)
o luso, sem mais aquela,
fingiu que levou um susto
atracando-se com ela.
 

O pai de cabeça cheia,         (3º lugar 1º concurso  Caxias do Sul 1976)
a mãe, "cabeça virada"...
Resultado: entrou areia
na "cuca" da filharada ...
 

Aquela velha coroca,
de discrição sempre à míngua,
fez tanta, tanta fofoca,
que deu nó-cego na língua!