OCTÁVIO ROGGIERO NETO é um jovem e talentoso poeta, pertencente a uma dinastia de homens que sempre tiveram a maior intimidade com as musas. Seu pai também foi um imenso poeta!
Octávio Roggiero Neto nasceu a 18 de dezembro de 1982, filho de Octávio Egydio Roggiero Júnior e de Corina Correia Roggiero. Formou-se advogado, tal qual sua mãe. Perdeu o pai muito cedo.
Seu livro "Primícias Poéticas", lançado em 2009, é um primor! Intercalando poemas livres, trovas, haicais, chamam a atenção sobretudo a sua técnica e inspiração. Acompanhem, abaixo, trovas de sua lavra.
Fala por mim o meu calo
do silêncio que trabalho.
Aprenda-me do que calo:
quanto mais falo mais falho.
Quando empina sua pipa,
esvaziando o carretel,
o menino participa da
imensidade do céu.
A vida é mesmo uma festa,
viver é tudo de bom!
Sim, mas só que estamos nesta
na condição de garçom.
Este olhar dela me cisma:
tem um quê de não sei quê...
rebrilhando, é como um prisma
a hipnotizar quem o vê.
Olhos abertos à custo
e a vida nos chega turva;
depois do cochilo, o susto
e o trem sumindo na curva.
Um dia de azul pra nós,
os cansados de cansaços,
pra esquecermos de ser sós,
no aconchego dos abraços.
Sem pressa, sigo na boa.
por que sentir-me atrasado?
Vai nessa, como quem voa,
que sou mais ir avoado!
Sim, palavras tem à beça
e cai sempre no embaraço
o ostentador que tropeça
na língua maior que o braço.
Poeta, médico e louco:
reza o ditado banal
que dos três temos um pouco;
discordo só do avental...
Cachorrinho vira-lar,
tristonho por não ter dono,
cabecinha sobre a pata,
com uns olhos de abandono...
Narciso na água se vê
e se afoga na vaidade;
assim, sobre o rio Tietê,
mira-se a Modernidade.
LAR, DOCE LAR
Depois de um dia de lida,
seu sorriso me conforta:
tudo o que espero da vida
tenho aquém da nossa porta
MINEIRICE
O nosso amor aproveito,
quietinho, só no bem-bão,
deitado sobre o teu peito,
ouvindo o meu coração.
CÁ ENTRE NÓS
Pelas ruas infinitas,
caminhando solidões,
ouço vozes inauditas:
vozes cá dos meus botões.
CORAÇÕES SIAMESES
Um afeto nos grudou
desde o dia do começo:
só contigo sei quem sou;
sem ti, não me reconheço.
PRESA FÁCIL
Me armadilha tua nuca:
sou presa de tua essência,
neste cangote-arapuca,
sem nenhuma resistência...
KAMA SUTRA
Nada como nossa cama
pra inventarmos louco abraço:
é nela que a gente se ama,
confundindo perna e braço.
O sentimento do mundo,
nem na armação, nem na lente,
está no viver profundo,
com o olhar bem lá na frente.
Antes um sonoro não,
como um tapa ao pé do ouvido,
a ser em dois solidão
e de si mesmo, esquecido.
USA
Usa, cria caso e acusa.
Usa abusando da Terra.
Usa estampada na blusa.
Usa, estampido de guerra.
CADAFALSO
A vida é mesmo inconstante,
nada é certo, minha filha:
quem tem força num instante,
noutro não tem a cedilha...
SENTI NELA
A insônia vem do relento,
não dista nem uma quadra
da minha cama, ouço atento,
enquanto um cachorro ladra.
MADRUGADA, A NOSSA SINA
Uma hora de la matina,
acordado sem porquê;
eis que a mão escreve - a sina -
essa trova que cê lê.
CÉU DO PAPEL
Noite de tanto rabisco,
que em sinais já se insinua:
ver estrela no asterisco,
no parêntese, ver lua.
BÊBADO DE SONO
Motocicleta zumbindo,
pernilongo acelerando:
é a noite se confundindo
no sono que vai chegando...
AMARÉ
Como quem põe ao ouvido
uma concha, escuta o mar,
no teu peito ouço entretido
o próprio amor a pulsar.
DÁDIVA DIVINA
Vou ao Jardim do Senhor
toda vez que te revejo
e colho a alegria em flor
que desabrocha em teu beijo.
A SETE CHAVES
Chamem-me conservador,
que respondo com desdém:
- sim, guardo comigo o amor
de uma mulher, não de cem!
ASAS À IMAGINAÇÃO
Faça o seu olhar sua ave,
permita-se o voo ousado:
vá, seja livre e suave
em seu sonho mais alado!
ULTRALEVE
Que nos ultraleve os ventos
para caminhos tão plenos,
onde os nossos pensamentos,
por demais, sejam amenos.
O mais verde passarinho,
uma esperança que adeja.
Lá que ele fará seu ninho:
dentro de teus olhos, veja...
Levo a saudade comigo,
na tristeza e na alegria,
de ti, meu pai, meu amigo,
que o tempo não distancia.