(Foto de Luiz Otávio, ao lado de Flávio Roberto Stefani, atual presidente da UBT do Rio Grande do Sul, na década de 60)
Sobre Luiz Otávio, neste mesmo site e em muitos outros, sua saga tem sido sobejamente decantada. O "Príncipe da Trova" tornou-se "Magnífico Trovador" no triênio 1972/73/74, respectivamente com as trovas abaixo relacionadas, de números 07, 08 e 09. Faleceu menos de três anos depois, mas deixou uma saudade que não passa. Assim como sua obra.
Gilson de Castro (seu nome de batismo) nasceu no bairro de Vila Isabel, no Rio de Janeiro, em 18 de julho de 1916, às 8 horas e 30 minutos, numa casa da Rua Uruguaifilho de Octávio de Castro e Antonieta Cerqueira da Motta Castro. Formou-se odontólogo em 1936. Junto com o poeta J.G. teve a ideia de criar Jogos Florais no Brasil, sendo o primeiro deles levado a efeito em Nova Friburgo. Idealista ferrenho, batalhador incansável e extremamente carismático, arrastou com ele uma plêia de de intelectuais de todo o Brasil, em uma época tão precária no terreno das comunicações. Uma doença rara (e fatal) o acometeu, causando-lhe a morte aos 60 anos. Até hoje, em todos os concursos de trovas utiliza-se o "Sistema da Envelopes", em que se adota, como "remetente", "Luiz Otávio". O livro "O Príncipe da Trova", lançado por Carolina Ramos, em 1999, descreve a trajetória literária e pessoal daquele que será, para sempre, o "Príncipe dos Trovadores"
01
A Trova tomou-me inteiro,
tão amada e repetida,
que agora traça o roteiro
das horas da minha vida!...
02
Quer ser feliz? Então siga
a minha vida bizarra
que tem muito de formiga
e ainda mais de cigarra...
03
Festejo tanto e bendigo
vitórias que os outros têm,
que a vitória de um amigo
parece minha também!
04
Dizes que és pobre e eu, coitado,
inveja tenho de ti:
-tens tua mãe ao teu lado
e a minha, eu nem conheci!...
05
Telefono... sempre em ânsia...
e ao ouvir a tua voz,
sinto que a longa distância
fica menor entre nós...
06
Tirem-me tudo que tenho,
neguem-me todo o valor!
-Numa glória só me empenho:
a de humilde trovador...
07
Nessas angústias que oprimem,
que trazem o medo e o pranto,
há gritos que nada exprimem,
silêncios que dizem tanto!
08
Eu...você...as confidências...
O amor que, intenso, cresceu...
O resto são reticências
que a própria vida escreveu...
09
Ele cai...não retrocede!...
continua até sozinho...
que a fibra também se mede
pelas quedas no caminho!
10
Na vida tanta promessa,
tanto anseio de subir!
-E a ventura mal começa,
vem a hora de partir...
11
Sou como aquela palmeira,
sozinha, no alto do monte:
-Uma eterna prisioneira
olhando, triste, o horizonte...
12
Duas vidas todos temos,
muitas vezes sem saber:
a vida que nós vivemos
e a que sonhamos viver.
13
Beijos de mãe...filha...esposa,
tantos beijos ganha a gente!
-Como pode a mesma coisa
ter sabor tão diferente!...
14
O mar nos deu a receita
de um viver sábio, fecundo:
sendo salgado, ele aceita
as águas doces do mundo!
15
Desconfio que a saudade
não gosta de ti, meu bem:
quando tu vens, ela vai...
quando tu vais, ela vem!
16
Não sei qual pior ferida,
qual o maior padecer:
se viver sem sonho a vida
ou se sonhar, sem viver.
17
Sou como a cana do engenho...
Quem dera que assim não fosse!
Quanto mais dores eu tenho,
o meu cantar sai mais doce!
18
Quero falar...retrocedo...
pois tenho um pavor medonho
de que ao contar meu segredo
você destrua o meu sonho!
19
Às vezes o mar bravio
dá-nos lição engenhosa:
afunda um grande navio,
deixa boiar uma rosa!
20
Meus sentimentos diversos
prendo em poemas pequenos.
Quem na vida deixa versos,
parece que morre menos.
21
Fiz o bem na vida, a esmo,
sem sequer olhar a quem...
E, esquecendo de mim mesmo,
fiz a mim o melhor bem!
22 Ó santa e doce morena,
ó mãe que eu não conheci,
esta tristeza... esta pena...
eu julgo que vem daí!...
23
De todo lado jogado,
desde os tempos de menino,
eu acho até engraçado
meu destino sem destino...
24
Plantei roseiras, outrora,
sem almejar ser o dono...
E sou bem feliz, agora,
colhendo rosas no outono.
25
Que estranha fatalidade,
grande amor de minha vida,
mesmo em forma de saudade,
és presença proibida!...
26
Um suplício que me aterra
e me torna quase incréu:
ter de perder-te na terra
para assim ganhar o Céu...
27
No Céu, em vida mais bela,
na terra, seja onde for,
se eu estiver longe dela,
é tudo Inferno, Senhor!...
28
Em dois versos se resume
a nossa esplêndida história:
- amor que é sonho e perfume!
- amor que é cruz e que é glória!
29
Este amor que não buscamos,
amor -- castigo e troféu,
se tem espinhos nos ramos,
tem flores que vêm do Céu!...
30
Contradição singular
que angustia o meu viver:
a ventura de te achar
e o medo de te perder.
31
Não paras quase ao meu lado...
e em cada tua partida,
eu sinto que sou roubado
num pouco da minha vida...
32
Minha alma tanto se eleva,
carrego tão bem a cruz,
que este abandono que é treva,
tem desperdícios de luz!
33
Rusgas tolas, falta o senso,
não falo, não telefono...
E esse nosso orgulho imenso
é causa deste abandono.
34
Abandonada, esquecida,
sem amor, sem ter ninguém,
vai rolando, até que a vida
não a queira mais também...
35
A minha esposa... o meu Lar...
Os meus livros... meu filhinho...
- Tu jamais hás de encontrar
ventura igual noutro ninho!
36
Mocinha, que reza tanto,
- devota de Santo Antônio
- traz sempre um olho no santo
e o outro no matrimônio...
37
Mulher que não faz questão
de o corpo muito ocultar,
geralmente tem razão:
nada mais pode mostrar...
38
Tem amor e tolerância!
Não julgues assim a esmo!
Pois, na mesma circunstância,
talvez fizesses o mesmo.
39
Toma cuidado, poeta,
com teu sentir mais profundo.
- A trova é muito indiscreta!
Conta tudo a todo mundo...
40
Amor - sentimento forte!
Palavra odiada e querida...
Se é causa de tanta morte,
é a própria razão da Vida!...
41
Saveiros, que vêm de volta,
que eu vejo do alto do monte,
são pipas que a Tarde solta
com a linha do Horizonte...
42
Amarga insatisfação
que só desejo nos dá
de ter o que não se tem,
de estar onde não se está...
43
"Pequena" -- dizem zangados,
muitas vezes com desdém.
- Nunca saberão - coitados!
- que grandeza a trova tem!
44
Natal... ternura... poesia...
Vem o amor... e foge o mal...
- Quem dera que todo dia
fosse dia de Natal!...
45
Tu gostas do que não gosto...
- E eu sofro por ser assim!
-Vou ver se de mim desgosto,
para gostares de mim...
46
Não te causem sobressalto
maledicências terrenas!
- Contemplando o mundo do alto
as coisas ficam pequenas...
47
Eu... você... nossos dois filhos...
- Gosto tanto de quadrinhas
que do Lar fiz uma Trova,
sendo nós as quatro linhas...
48
Trovador, grande que seja,
tem esta mágoa a esconder:
a trova que mais deseja,
jamais consegue escrever...
49
Pelo tamanho não deves
medir valor de ninguém;
sendo quatro versos breves,
como a trova nos faz bem!
50
No mundo, onde tudo espero,
pois conheço bem a vida,
prefiro o mau que é sincero
à bondade que é fingida.
51
Enfrentando um mundo falso,
vendo as forças que me somem,
lembro o menino descalço
com medo de lobisomem...
52
Saudade: um eco perdido
de uma cantiga da infância...
Perfume de flor nascido
lá nas brumas da distância...
53
Agora, a vida a findar,
foi que percebi tristonho,
que vivi sempre a sonhar
e, era mentira o meu sonho...
54
Eu sigo em doce mistério,
sorrindo e escondendo as dores;
sou tal qual um cemitério
todo coberto de flores...
55
No mundo onde tudo espero,
pois conheço bem a vida,
prefiro o mau, que é sincero,
à bondade, que é fingida!
56
Ser logrado é o teu fadário,
ó coração infantil...
Será que o teu calendário
só tem "primeiro de abril"?...
57
Quer ser feliz? Então siga
a minha vida bizarra
que tem muito de formiga
e, ainda mais de cigarra...
58
Os dias dos namorados
são singelos e risonhos...
Os dedos entrelaçados,
e, entrelaçados, os sonhos!
59
O trem cansado, sedento,
subindo a nublada serra,
é um bisturi barulhento
rasgando o seio da terra!...
60
Brinquedo de porcelana
na mão de criança arteira...
Assim é a ventura humana,
tão frágil... tão passageira...
61
Menina, vou já correndo
ao padre me confessar,
pois, inda que não querendo,
eu peco só por te olhar...
62
Em silêncio muita gente
trabalha como as raízes,
oculta e modestamente,
para ver outros felizes...
63
Parece que morre à míngua;
é frágil como ninguém...
Mas, quando fala, que língua
e que pulmão que ela tem!
64
Eu estava bem gripado...
Depois ficaste também...
Por um simples resfriado,
nós nos traímos, meu bem...
65
Tu és agora alta dama,
de porte belo e correto!
Conheço bem tua fama...
Mas... sossega... sou discreto...
66
Eu trago dentro do peito,
na ventura ou desventura,
sem nunca mudar de jeito:
- um coração em ternura...
67
Os dias dos namorados
são singelos e risonhos!
Os dedos entrelaçados
e entrelaçados os sonhos!...
68
No mundo há tanta maldade
nos ferindo sempre e à toa,
que a gente, não por bondade,
mas por cansaço, perdoa...
69
Enfrentando um mundo falso,
vendo as forças que me somem, (4º lugar em Ribeirão Preto - 1975)
lembro o menino descalço
com medo de lobisomem...
70
Inveja, anseios, dispensa!
Os destinos são iguais...
Com pequena diferença:
Sofrer menos... Sofrer mais...
71
Levaste tanto de mim,
deixaste tanto de ti,
que chego a pensar enfim
que estou lá... e estás aqui...
72
Estrela do céu que eu fito,
se agora ela me fitar,
fala do amor infinito
que eu lhe mando neste olhar...
73
Cidade amor e ternura,
cidade do meu encanto,
não sendo minha, Friburgo,
como posso amar-te tanto?
O HUMOR DO "PRÍNCIPE":
Tu és agora alta dama,
de porte belo e correto.
- Conheço bem tua fama...
Mas, -sossega! - sou discreto...