A SOGRA - autor: José Ouverney (palestra em trovas)
Figura eternamente polêmica e controversa nas rodas de trovadores, eu não entendo por que essa discriminação contra a imagem magnânima da sogra. Afinal, é ela a mãe da "musa"... ou "muso", e avó dos filhos de quem lhe dedicou os "mimosos" versos. Dizem que tudo não passa de uma inocente brincadeirinha ou até de uma original manifestação de amor mas, sei lá, o que sempre ouvi dizer é que toda brincadeira tem um fundo de verdade. Será?
Tudo começou, segundo Renata Paccola, no ano de 1.500 D.C. quando
Retornando a Portugal
depois da grande conquista,
vendo a sogra em seu quintal,
diz Cabral: "Encrenca à vista"!
Enquanto viva, implicam o tempo todo com a pobre. Madalena Léa, por exemplo, não queria nem que ela dirigisse:
Minha sogra, aquela bruxa,
num fusca, mandando brasa!
E eu fico pensando: puxa!
Com tanta vassoura em casa...
E o Simeão Cohen chegou ao cúmulo de subtrair-lhe o veículo. Depois tentou se defender:
Não foi pilhagem... troquei
com minha sogra, certinho:
peguei seu fusca e lhe dei
uma vassoura... zerinho!
Já a Marilúcia Rezende ficou impressionada com a sinceridade de certo rapaz e o descreveu assim:
Até na pressa ele é franco...
Num raciocínio ligeiro,
coloca as malas no banco
e a sogra no bagageiro!!!
Isso que é "amá-la"! Na sapataria do Pedro Ornellas é outra confusão:
Esbanjando-lhe o dinheiro
suado e curto de fato,
a sogra do sapateiro
é uma "pedra no sapato".
E a Heloísa Zanconato ficava desconfiada até quando a velha, na mais santa das intenções, convidava-a para um banquete. Isso mesmo: banquete! Porque ter sogra rica é privilégio de poucos!
Quando a sogra me convida
para um jantar de nababo,
eu vou certa que a comida
vai ser jiló... ou quiabo!
E quando a "coroa" é chegada num "goró", então, nem lhes conto nada. Quem vai contar é o Waldir Neves:
A sogra adora cerveja
e o genro - maldade só -
no copo, sem que ela o veja,
despeja pimenta em pó.
Já o Valdez, que é médico e pesquisador incansável, descobriu a origem da anomalia chamada "loucura":
Que pena! Ficou pirado:
mordeu alguém outro dia
e agora sofre, o coitado,
da tal de "Sografobia"...
E já que falamos em médico pesquisador, lá das Alterosas nos informa o Arlindo Tadeu que existe um cientista lusitano que não agüenta mais a velha:
É catarata... enfisema...
Minha sogra é problemática!
A velha tem mais problema
que prova de Matemática!
Chateado ele resolveu então usá-la como cobaia numa experiência inédita:
Ante a clonagem, desmaia
o cientista pouco esperto:
fez a sogra de cobaia
e a experiência deu certo!
Se ela, cansada de tanta humilhação, resolve ir ao "!campo santo" orar pelo falecido e pedir ajuda, chega o Edmar Japiassú Maia e faz aumentar o seu inferno astral:
Pelo sufoco constante,
se ao cemitério ela vai,
põe crachá de "VISITANTE",
pois, senão, de lá não sai!
Por essas e por outras é que existe sempre uma conspiração no sentido de "apagar a velhinha". A começar pela triste narrativa do Carlos Henrique:
Vendo a sogra no sufoco,
quase morrendo afogada,
o Fragoso deu-lhe o troco,
jogando a bóia furada...
Já o Izo Goldman teve a seguinte idéia:
Vendo a sogra na calçada
o genro, lá da janela,
dá num vaso uma "esbarrada"
e acerta a cabeça dela!!!
Sérgio Bernardo também resolveu livrar-se para sempre da megera, porém, com mais sutileza:
Se um bom convívio não logra,
resolve a encrenca "no tranco":
faz o barraco da sogra
bem debaixo do barranco!
Quando finalmente, para alívio de tantos, ela "bate as botas", descobrem, horrorizados, que o perigo continua a rondar. A Maria Lúcia Daloce imediatamente alerta para os riscos de uma "ressurreição":
Foi um susto no velório
quando alguém gritou: tá viva!
E o genro, em tom vexatório:
"mas que velha vingativa!"
E aquela coroa que era chegada num goró, vocês estão lembrados?
Num velório alguém pergunta:
- todo mundo já bebeu?
É quando uma voz defunta
diz, do caixão: - Falta eu!
Era a própria, segundo o emocionado testemunho do Orlando Brito. Agora notem o inconformismo do Pedro Viana Filho ao sentir-se ludibriado em sua boa fé:
Minha sogra deu chilique,
fez careta e emudeceu...
Tudo farsa, foi trambique:
fez a cena e não morreu.
Mas como os trovadores são muito irmãos e solidários, entrou em cena o Sérgio Ferreira da Silva e, embora sem sucesso, forçou a barra, tentando subornar o coveiro:
O coveiro disse enfim:
não quero ser encrenqueiro...
eu enterro a sogra sim...
mas... tem que morrer primeiro!
Foi então que o Pedro Ornellas apelou feio... E depois ainda tentou sair de fininho:
TERRAMICINA??? Que horror!!!
Depondo, o genro "lastima":
lendo a receita, doutor,
eu entendi "TERRA EM CIMA"!
Mas... e depois que finalmente morre? Pensam que o suplício acabou? Pois o Sérgio Ferreira da Silva, aquele mesmo que tentou subornar o coveiro, garante que não:
Alheia ao calor eterno
a Sogra, por vocação,
tão logo chegou no Inferno,
assumiu a... Direção!
Vejam a que ponto chega a incompreensão humana: transformaram a figura da sogra num autêntico boneco de Judas. A realidade é que, mesmo embriagados, esses carrascos não largam do pé das coitadas, conforme depoimento horrorizado do Gerson Cesar de Souza:
Vendo as listras do pijama
que vestia Dorotéia,
seu genro, bêbado, exclama:
- a zebra engoliu a véia!!!
Eu, de minha parte, sinto-me profundamente indignado porque, a meu modo de ver:
Sogra é figura impoluta
se olharmos desta maneira:
ninguém pode amar a fruta
e contestar a fruteira!
Bom, pelo menos até há pouco tempo era o que eu pensava, porque agora também mudei de opinião, depois do que a velha me aprontou:
Casando-se com meu pai
(vejam que idéia nefasta!),
além de sogra, ela vai
ser também minha madrasta!!!?
Ai, Jesus!!!
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O autor do texto é "Notável Trovador" por Pouso Alegre desde 2005, "Magnífico Trovador" por Nova Friburgo desde 2008 e titular da cadeira nº 33 da Academia Pindamonhangabense de Letras.