(texto publicado no dia 19 de julho de 2013 no Caderno “Cotidiano”, da Folha de São Paulo, por Estevão Bertoni)
Izo Goldman (1932-2013) - Trovador que colecionava imagens de São Francisco
Foi sem querer que Izo Goldman descobriu ter escrito uma trova. No bilhete que enviou a uma aluna, no curso de dinâmica de grupo que ministrava no Rio, usou na mensagem versos e rimas. A aluna o alertou: era uma trova.
A partir desse episódio, nos anos 70, apaixonou-se por aquela forma de composição poética. Ganhou concursos (tinha o título de magnífico trovador em Nova Friburgo, a "capital da trova"), escreveu um livro e presidiu a União Brasileira de Trovadores em SP.
Gaúcho de Porto Alegre, Izo era filho de um judeu da Bessarábia. Veio a São Paulo aos 12, após a morte da mãe. No começo, ajudou o pai numa loja na Casa Verde, na zona norte. Depois, foi trabalhar na Esso.
Gerente em multinacionais, vivia viajando. Separou-se da primeira mulher e foi morar em Niterói. Divorciado da segunda, voltou a SP. Em 1994, conheceu a última companheira, Marta, que começou a escrever (ou arranhar, como ela diz) trovas por causa dele.
Deixou versos como:
"Para mantê-los me empenho
porque penso sempre assim:
tendo os amigos que tenho,
eu nem preciso de mim".
Em outros, usou do humor:
"Se a saudade fosse pão,
eu simplesmente poria
na porta do coração
uma placa: padaria".
Passou a colecionar imagens de São Francisco, Padroeiro dos Trovadores. Tinha mais de 800, que doou a um mosteiro.
Foi ainda apaixonado desde cedo por futebol de botão.
Morreu na sexta-feira (12), aos 80 anos, de insuficiência respiratória. Teve quatro filhos e um neto. Marta "arranhou" para ele:
"Descobri essa verdade
depois de tua partida:
que só tem gosto a saudade
quando chega a despedida".