O Nosso Poeta se foi...

     Por uma estranha ironia, no mesmo dia perdemos Nádia Huguenin em Friburgo e Antonio Roberto Fernandes, delegado da UBT em Campos dos Goytacazes/RJ.
     Havia incluisve um concurso em andamento, tema "Conhaque".
    O site "Falando de Trova" se solidariza com toda a família literária campista, neste momento de dor e perda, e reproduz o texto abaixo, escrito por quem o acompanhou bem de perto.
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                           ONOSSO POETA SE FOI...
                            (texto de Heloísa Crespo)

     Meus amigos, esta notícia não é a que eu gostaria de dar, nem receber, mas assim é a vida... O nosso poeta está calado para nós, aparentemente, porque, na verdade, ele não deixará de escrever os seus versos, só que agora,"voltados para Deus, como disse Vinicius de Moraes no poema psicografado: "Eis-me aqui".

     As orações continuam, pois tenho a certeza que elas serviram e servem na sua passagem cheia de perdão e paz, para um outro espaço que sabemos que existe, no entanto não sabemos como é, nem onde. Qualquer dia desses, não sei quando, nem por quem, receberemos um poema feito por ele na sua nova morada. Caprichoso e exigente como é na construção dos seus versos, certamente, será um primor! O tempo de lá não é o mesmo daqui. Ficaremos aguardando... Enquanto isso, faremos a leitura do que nos deixou escrito como 'Emoção', 'Nem sempre', 'Manacá', 'Encontro' e tantos outros. 'Mas...' -um dos meus preferidos-, foi declamado por ele, a meu pedido, no dia vinte e seis de julho de dois mil e oito, na Sociedade Musical Operários Campistas. Um presente recebido. Uma lembrança que ficou. Obrigada, Poeta!

                    Mas...

E eu que achei que a lua não brilhasse
sobre os mortos no campo da guerrilha,
sobre a relva que encobre a armadilha
ou sobre o esconderijo da quadrilha,
mas brilha.

E achei que nenhum pássaro cantasse
se um lavrador não mais colhe o que planta,
se uma família vai dormir sem janta
com um soluço preso na garganta,
mas canta.

Também pensei que a chuva não regasse
a folha cujo leite queima e cega,
a carnívora flor que o cego inseto pega
ou o espinho oculto na macega,
mas rega.

Pensei também que o orvalho não beijasse
a venenosa cobra que rasteja
no silêncio da noite sertaneja
sobre a ruína de esquecida igreja,
mas beija.

Imaginei que a água não lavasse
o chicote que em sangue se deprava
quando, de forma monstruosa e brava,
abre trilhas de dor na pele escrava,
mas lava.

Apostei que nenhuma borboleta
-por ser um vivo exemplo de esperança-
dançaria contente, leve e mansa
sobre o túmulo em flor de uma criança,
mas dança.

Por isso achei que eu não mais fizesse
poema algum após tanto embaraço,
tanta decepção, tanto cansaço
e tanta espera, em vão, por teu abraço,
mas faço.

Agora a nossa oração:
Meu Deus, eu Vos louvo e agradeço por Antônio Roberto Fernandes e Vos peço que o ilumineis, que o orienteis dizendo tudo o que é para ele fazer, nessa viagem, indo ao Vosso encontro e ele fará.
Maria Santíssima, mãe e amiga de Antônio Roberto, fique com ele, Maria, tomando conta, protegendo-o hoje e sempre.
Santo Anjo do Senhor, tão zeloso e guardador, se a ti vos confiou a Piedade Divina, sempre rege, guarde, governe e ilumine Antônio Roberto Fernandes.
Pai Nosso que estás no céu...
Ave-Maria, cheia de graça...
Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo...
Amém.

Campos dos Goytacazes, quinta-feira, 20 de novembro de 2008.
Heloisa Crespo