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(texto de José Fabiano, mineirim de Uberaba)
Osmar Barbosa
Nasceu em Vitória, Espírito Santo, em 6 de outubro de 1915, e faleceu em Nova Friburgo, Rio de Janeiro, em 29 de março de 1998. Filho de Oscar Barbosa e de Maria Violeta Barbosa. Seminarista, professor e poeta. Autor de inúmeros livros sobre língua portuguesa. Primeiras obras: Poemas sem idade (1942), Palmares (1947), Coração, bazar do amor (1948).
CONDENSAÇÃO DE SONETOS FAMOSOS EM TROVAS
Por OSMAR BARBOSA
CLÁSSICOS:
Pequei, meu Deus, longos anos!
Quando a morte a luz me roube,
saiba morrer sem enganos
o que viver nunca soube.
(“Soneto”, Bocage)
Ficou-me a dor de perder-te
e a Deus a rogar estou
tão cedo me leve a ver-te
quão cedo Ele te levou.
(“Soneto”, Camões)
Momentos que o tempo furta,
dobraria o meu labor
não fora a vida tão curta
para tão extenso amor!
(“Soneto”, Camões)
Acendeu-me vil centelha,
busquei a vida ilusória;
Senhor, deixai-me! Esta ovelha
pode turvar vossa glória!
(“Arrependimento”, Gregório de Matos)
Quando fores bem velhinha,
pagarás o teu desdém:
lendo os meus versos, sozinha,
hás de chorar por alguém.
(“Soneto a Helena”, Pierre de Ronsard)
Tejo meu, anos errantes
mudam mesmo a primavera:
já não és quem eras dantes,
já não sou quem dantes era.
(“Soneto”, Rodrigues Lôbo)
Tudo muda! Aves e flores,
tudo que o tempo secou.
Se o campo tem outras cores,
coisas vãs, outro já sou.
(“Soneto célebre”, Sá de Miranda)
ROMÂNTICOS:
Foi-se o que não se recobra,
já perdi tudo talvez;
uma verdade me sobra:
é chorar de quando em vez.
(“Tristeza”, Alfred de Musset)
Sete anos tens, minha filha,
puro está teu coração;
Segue de Jesus a trilha,
que o resto é mera ilusão.
(“A Maria Efigênia”, Alvarenga Peixoto)
Passo as horas suportando
teus risos, meu anjo lindo.
Se as noites velo sonhando,
nos sonhos morro sorrindo!
(“Soneto”, Álvares de Azevedo)
Fonte de queixoso canto,
ave de plumas serenas;
fonte – chora com meu pranto;
voa, ave, com minhas penas!
(“Melancolia”, Basílio da Gama)
Se tudo negou-me a sorte,
suplico ao cruel fadário
que, ao menos, na hora da morte,
beije a cruz de teu rosário!
(“Dulce”, Castro Alves)
Duas estrelas distantes
e eu contemplava-as sem vê-las,
vendo os seus olhos brilhantes
na luz das duas estrelas.
(“Sonetos XXXI”, Cláudio Manuel da Costa)
Não chores por mim ausente;
é bem melhor, entretanto,
esqueceres-me contente
que me lembrares em pranto.
(“Remember”, Elizabeth B. Browing)
Como nauta triste e errante
afoguei a mocidade
buscando-te a cada instante
nos suspiros da saudade.
(“Soneto”, Fagundes Varela)
Versos lhe fiz. Mas agora,
lendo-os, fria indagará:
- Qual a mulher que ele adora?”
e ela não compreenderá.
(“Soneto”, Felix Arvers)
Morrer... Melhor sorte esteja
numa pedra tumular...
Morrer... Dormir talvez seja
ou seja talvez sonhar!
(“Morrer... Dormir...”, Francisco Otaviano)
Pode a sorte traiçoeira
pôr-nos distantes assim,
que hei de ter-te a vida inteira
presente dentro de mim.
(“Soneto”, José Bonifácio)
Como noiva, após a festa,
toda de branco, enfeitada,
talvez durmas longa sesta
no níveo caixão deitada.
(“Cadáver de Virgem”, Luiz Delfino)
Formosa, não sei pintar-te
por mais que busque os primores,
pois, ver-te é querer amar-te,
e amar-te – é morrer de amores!
(“Formosa”, Maciel Monteiro)
Morre a flor, morre a saudade,
morre o amor, morre o poder,
só é perene a verdade,
não morre a graça, o saber.
(“Soneto”, Moniz Barreto)
Se não finda a falsidade
após a lição da cruz,
se inda sofre a humanidade,
para que morreu Jesus?
(“Ignorabimus”, Tobias Barreto)