Os rumos da rima
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Nosso amado Luiz Otávio,
a quem Deus deu tantos dons,
fez da vida um seticlávio,
um gorjeio em sete sons.
a. a. de assis
Sempre que mostra alguém praticando algo que envolva risco, a televisão adverte: “Não tente fazer o mesmo”.
Cabe igual advertência aqui. Deseja-se mostrar a possibilidade de inovar em matéria de rima, porém sem recomendar o uso de tais recursos em trovas e outros poemas a serem enviados a concursos. Em competição não se brinca.
Prometo, por exemplo, não enviar a nenhum torneio este poeminha feito em homenagem à família real da selva (atenção para a rima “zã e” com “mãe”):
Boy,
Tar-
zã e
Ja-
ne, a
mãe.
Mas alguma ousadia parece que vale a pena. Rimar, por exemplo: [múmia com resume-a]; [vence-a com sonolência]; [pântanos com quebranta-nos]; [águia com alague-a], [juventude com fast-food], [forró com status quo] [ seu ex com vocês], [funde com mapa-múndi] etc. Veja lá:
O nosso treineiro é fogo...
dura lex sed lex.
Se o time vai mal no jogo,
de pronto ele troca os beques.
Autores ilustres escreveram versos como estes:
A chuva é a música de um poema de Verlaine…
E vem-me o sonho de uma véspera solene...
Cecília Meirelles
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Almas pigmeias! Deus subjuga-as, cinge-as
A imperfeição! Mas vem o tempo, e vence-O,
E o meu sonho crescia no silêncio,
Maior que as epopeias carolíngias!
Augusto dos Anjos
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Mágoas, se as tem, subjugue-as ou disfarce-as...
No rangido de todas as enxárcias!
Augusto dos Anjos
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Jorrou-me em ondas... Resistir quem há-de?
Uma ilusão gemia em cada canto,
chorava em cada canto uma saudade.
Luís Guimarães Júnior
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Beleza (confesso) que me
enruste
beleza antiproust.
Haroldo de Campos
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nada me demove
ainda vou ser
o pai dos irmãos Karamazov
Paulo Leminsk
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minha alma breve breve
o elemento mais leve
na tabela de mendeleiev
Paulo Leminsk
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Aos férvidos, o que os esfrie.
A artistas, a coquetterie.
Manuel Bandeira
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Estes, caço-os e depeno-os:
A canga fez-se para o boi...
Meu claro ventre nunca foi
De sonhadores e de ingênuos!
Manuel Bandeira
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Eis Crystal Kimberley, a rainha do strip-tease.
Saiu do sertão do Sergipe, de nome Wandernise.
Donizete Galvão
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Mandou-me o senhor vigário
que lhe comprasse uma lâmpada
para alumiar a estampa da
Senhora do Rosário.
Artur de Azevedo
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Você, no estado em que está, com esses peitos,
jogada no rio, afundava feito
parafuso. Falando sério, o jeito
mesmo é vestir alguma fantasia.
Não dá pra você ficar por aí à
toa com essa cara. Você devia
pôr uma máscara qualquer. Que tal?
Elizabeth Bishop
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Antonio Augusto de Assis, autor da Missa em Trovas, poeta consagrado, reside em Maringá/PR e enriquece nosso site com seus preciosos textos.