POESIA = PALAVRAS QUE DANÇAM!

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POESIA = PALAVRAS QUE DANÇAM!
(texto de Sérgio Ferreira da Silva, Magnífico Trovador por Nova Friburgo)

          Um professor de dança de salão, certa vez, no primeiro dia de aula de uma nova turma, perguntou: “Alguém, aqui, sabe dançar?” Ninguém respondeu, claro! Depois, perguntou: “Alguém, aqui, sabe andar?” Todos responderam que sim... E ele concluiu: “Pois bem, pessoal,... dançar é andar... DIFERENTE!” 

Observe os períodos seguintes

I
Quando criança, eu brincava no quintal dos fundos de minha casa, fingindo ser fazendeiro. 

II
Em minha infância eu fazia
ser, meu sonho, tão real,
que uma fazenda cabia
no fundo de meu quintal!
(Sérgio Ferreira da Silva)

O primeiro período é uma descrição simples de um fato ocorrido no passado do narrador, sem nenhum conteúdo emocional. No segundo, narra-se o mesmo fato, de uma forma específica (quatro linhas – versos -, duas rimas e métrica). Existem, ainda, elementos que não estão escritos, mas que estão presentes: a emoção, a beleza, a imaginação e os sentimentos de quem escreveu e de quem está lendo o texto. 

A TROVA 

O segundo texto é uma trova, que pode ser definida como “...a quadra de sentido completo, composta com versos de sete sons, ritmo livre e rimas cruzadas.” (Francisco Nogueira). Existem outras definições, mas esta é suficiente neste momento. 

A trova, como a conhecemos hoje, tem sua origem próxima nas QUADRAS populares portuguesas, como a seguinte, que todos conhecemos: 

Oh, Ciranda, Cirandinha,
vamos todos cirandar!
Vamos dar a meia-volta
volta e meia vamos dar! 

Repare que, na quadra, ocorre a rima somente entre o 2° e o 4° verso: CIRANDAR rimando com DAR. Mas, a propósito, o que é RIMA? 

A RIMA 

Rima pode ser definida como a coincidência de sons finais entre as palavras. Os sons finais são aqueles obtidos pela emissão da última sílaba tônica (de som forte). 

Por exemplo: CRIANÇA - ESPERANÇA // BOLA - ESCOLA // FOGO - JOGO // SELVA - RELVA // GATO - RATO // PÃO - CORAÇÃO.

Aqui, cabe uma pergunta: Pode haver poesia, sem rima? Observe o poema abaixo, de ZAÉ JÚNIOR: 

O CAMINHO 

Quando se encontra o caminho
basta continuar a descobrir a paisagem
que ele corta ao meio
e a pedra
e a poeira
e os espinhos
para que não sejam pisados.
Quando não se encontra o caminho
basta levantar as mãos
para que Deus as segure. 

O efeito das palavras, o sentimento do texto, está expresso nas palavras escolhidas e no significado delas, que, geralmente, vai além daquele que encontramos nos dicionários. Na poesia livre, que é como chamamos este tipo de texto, embora não se use métrica (que é a quantidade de sons de cada verso), nem rima, os versos possuem uma sonoridade e um ritmo que podem variar, mas esta variação integra e reforça o sentido da poesia. O Texto “O CAMINHO”, compara os trechos difíceis que um terreno pode ter e os momentos difíceis que enfrentamos na vida, para dizer, no final, no que chamamos “CHAVE DE OURO”, da importância da FÉ, embora a palavra “fé” não apareça no texto.

          Na poesia de Zaé Júnior, então, encontramos aqueles aspectos que mencionamos no início (emoção, beleza, imaginação e a própria conclusão do leitor que interpretou o texto). 

                                POESIA PARA QUÊ? 

Qual seria, então, a importância de escrever? Ou melhor, qual a importância de escrevermos Poesia?

            Os escritores, os poetas e os bons leitores costumam ser revelados justamente na infância. Quanto mais cedo se começa a ler e a escrever, mais qualidade na nossa capacidade de entender o mundo e de nos fazermos entender pelos outros: melhor convivência e melhor desempenho profissional, afetivo, etc.

            A poesia, como sabemos, é uma maneira diferente de dizer as coisas, independentemente de sua forma, ou extensão. 

Quando conversamos com alguém, falamos ao telefone, nos dirigimos a um desconhecido, ou precisamos responder um questionário, ou entrevista de emprego, por exemplo, devemos empregar, em cada caso, uma linguagem própria, pela qual nos faremos entender.

            Quando lemos um romance, sabemos da necessidade de longos trechos descritivos, para a exata compreensão de um sentimento, ou, mesmo de um lugar qualquer: cada detalhe, cada lágrima, ou sorriso, devem ser detalhados a tal ponto, que possam formar uma imagem exata, quase uma fotografia na mente de quem lê. 

                      A POESIA É DIFERENTE... 

Quando lemos um poema, ou quando ouvimos a declamação de um, além da forma (estética), e do fundo (assunto), somos chamados a refletir e a buscar, em nosso íntimo, um sentimento guardado na memória, fruto de nossa experiência pessoal, de nossa emoção... e, é por este motivo que um mesmo poema pode tocar diferentemente cada um daqueles que o lêem, como faz a música: cada um de nós, em geral, prefere um ritmo a outro e, dentro do mesmo ritmo, gosta de uma música e de outra não. Explica-se, também, assim, o fato de música e poesia andarem de mãos dadas. 

                     RITMO E POESIA 

            Mais recentemente, o RAP (abreviação de rhythm and poetry), suprimindo, quase que totalmente, a base melódica, mas acentuando o beat (batida), bem como valendo-se de versos com rimas menos complexas e letras de forte apelo emocional, próximas da linguagem da juventude (gírias e diálogos rápidos), deu voz à periferia das grandes cidades de todo o mundo, às populações menos favorecidas e ocupou um espaço próprio no cenário cultural.

                   CONCLUINDO... 

            Assim, a poesia, com suas diversas formas, numa trajetória que acompanha e, às vezes, até antecipa a evolução humana, naquilo que diz respeito à expressão de seus sentimentos (amor, saudade, dor, perda, alegria, coragem, força, fé, etc.), sempre foi e será necessária no dia a dia de todos nós, como instrumento de cultura, de identidade, de transmissão de conceitos e valores. Afinal, em vez de dizer que o poeta, quando cria, expõe seus sentimentos,... talvez, uma trova... possa dizer mais: 

Poeta é aquele que traz
o Sol e a Lua em seu peito,

despreza a razão e faz
do desvario... um direito!

(Sérgio Ferreira da Silva) 

Agora, você já sabe DANÇAR!