"I JOGOS FLORAIS EIXO TURÍSTICO PINDA - CAMPOS DO JORDÃO" - 1967
REALIZAÇÃO: DELEGACIA DA UBT DE PINDAMONHANGABA
(com apoio das Prefeituras de Pindamonhangaba e Campos do Jordão)
COORDENADOR DOS CONCURSOS (em número de três): ORLANDO BRITO - Delegado da UBT Pindamonhangaba
HISTÓRICO = O primeiro acontecimento trovístico em Pindamonhangaba deu-se em 1967. Isso aconteceu quando o genial poeta/trovador Orlando Brito veio aqui residir, ele que já era, então, um nome consagrado dentro da Trova brasileira, e amigo de personalidades do Movimento que se alastrava pelo País.
A União Brasileira de Trovadores – entidade que ainda hoje rege os destinos da trova brasileira – foi criada em 1966. Essa modalidade era a coqueluche da época, quando Brito, apoiado pelos poderes públicos e culturais dos dois municípios limítrofes, lançou os “I Jogos Florais Eixo Turístico Pinda-Campos do Jordão”. O então porta-voz da iniciativa, junto à Câmara Municipal pindamonhangabense, foi o Vereador Aníbal Leite de Abreu. As trovas começaram a chegar na segunda quinzena de abril de 1967.
A realização foi um sucesso. Milhares de trabalhos foram enviados, do Brasil e de Portugal, discorrendo sobre os três temas propostos. O encerramento se deu no Clube Literário e Recreativo de Pindamonhangaba, no dia 09 de julho de 1967, véspera da emancipação política do município. Estava dada a largada, na cidade que, décadas depois, viria a tornar-se uma das maiores potências no cenário da Trova.
PRIMEIRO CONCURSO = TEMA: "SERRA"
1º lugar: COLBERT RANGEL COELHO – Rio de Janeiro
Tenho tudo aqui na terra,
e tenho, apenas, o quê?
- uma casinha na serra,
minha viola e você!
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2º lugar: COLBERT RANGEL COELHO – Rio de Janeiro
Dorme a serra... Em tom de prece,
vendo que a serra dormiu,
o “Dedo de Deus” parece
que está fazendo “psiu”.
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3º lugar: JOSÉ NOGUEIRA DA COSTA – Itajubá/MG
Na morte faz jus à endecha,
no céu merece acolhida,
quem galga sem queda ou queixa
as serras da própria vida.
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4º lugar: DIAS MONTEIRO – Taubaté/SP
A Serra da Mantiqueira,
perto do céu triunfante,
é sentinela altaneira,
guardando o chão bandeirante!
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5º lugar: BELTRANO (autor não identificado)
Esta serra tão querida
põe o provérbio a perder:
- é tão gostosa a subida;
- é tão difícil descer!
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6º lugar: DAVID DE ARAÚJO – Santos/SP
Cansado, levando às costas
os duros fardos da idade,
escalo, pelas encostas,
a serra azul da saudade!
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7º lugar: CAROLINA RAMOS DE OLIVEIRA - Santos
“Loiro, o ipê, cheio de flores,
pincelando de ouro a serra,
sob o azul, completa as cores
do pendão de minha terra!
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8º lugar: CÉLIO GRUNËWALD – Juiz de Fora/MG
Todos os picos da serra,
dos Alpes aos Pirineus,
são dedos grandes da Terra
mostrando a casa de Deus!
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9º lugar: MARIA HELENA – Rio de Janeiro
Sem achar voz que me embale,
só a solidão me banha!
Ah! como custa ser vale,
quando a alma é de montanha!
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10º lugar: J. GUEDES – Juiz de Fora
Altas serras já subi,
numa escala de loucuras;
- foi descendo que senti
toda a glória das alturas!
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SEGUNDO CONCURSO = TEMA: "RIO"
1º lugar: JOSÉ NOGUEIRA DA COSTA – Itajubá/MG
Jamais esqueça, meu filho,
do rio a grande lição:
quanto mais rude o seu trilho,
mais bela a sua canção!
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2º lugar: CAROLINA RAMOS DE OLIVEIRA - Santos
Já que a amizade é um tesouro
e a vida um rio, bateia;
- que há poucas pepitas de ouro
e milhões de grãos de areia!
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3º lugar: MARIA SYLVIA DE CERQUEIRA LEITE – Rio de Janeiro
Paraíba... Velho amigo!
Entre nós quanta distância!
- Ainda vives comigo
nos sonhos da minha infância...
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4º lugar: VASQUES FILHO – Fortaleza/CE
Comparo o rio a uma veia
que o sangue humano conduz,
porque deixa em cada aldeia
pão, riqueza, vida e luz!
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5º lugar: DURVAL MENDONÇA - Rio de Janeiro
Quando a sombra envolve os campos,
surge, travesso e vadio,
um bando de pirilampos
jogando estrelas no rio...
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6º lugar: FRANCISCO LUZIA NETO – Amparo/SP
Homem forte, homem de brio,
que uma queda não te torça...
- Repara as quedas de um rio
como geram luz e força!
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7º lugar: V. C. SOARES DE SOUZA - Santos
Dias e noites a fio
e sempre a chorar, eu penso
que formarei mais um rio
quando espremer o meu lenço...
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8º lugar: HELENA FERRAZ - Rio de Janeiro
Há gente como o regato
que corre humilde e sombrio,
perdido no anonimato,
para glória de outro rio...
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9º lugar: JOSÉ MARIA MACHADO DE ARAÚJO - Rio de Janeiro
Folha de ramo, caída,
que o rio transporta à foz,
no grande rio da vida
somos assim todos nós!
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10º lugar: CESÍDIO AMBROGI – Taubaté/SP
De veio que não se expande
tem muita gente o destino:
- nasce junto ao rio grande,
morre sempre pequenino...
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TERCEIRO CONCURSO = TEMA: "TURISMO"
1º lugar: DAVID DE ARAÚJO
Turista, se tens saudade,
volta de novo – eu te peço.
Hás de notar que a cidade
canta feliz teu regresso!
2º lugar: DE PAULA MADIA - Taubaté
Jesus, artista profundo,
num dia de inspiração,
para enfeitar mais o mundo
criou Campos do Jordão.
3º lugar: HEGEL PONTES – Juiz de Fora
Quanto mais velho, mais cismo
que a saudade é simplesmente
uma excursão de turismo
pelo passado da gente...
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COMISSÃO JULGADORA DESSES JOGOS FLORAIS:
Waldomiro Benedito de Abreu
Lauro Silva
Paulo Emílio D'Alessandro
Eloyna Ribeiro
Orlando Brito
Mário Jacintho da Silva
CURIOSIDADE:
Por ocasião dos festejos, o Magnífico Trovador Colbert Rangel Coelho, 1º e 2º classificado no tema "Serra", homenageou a cidade de Pindamonhangaba com um poema formado por trovas, quase todas utilizando rimas com o nome da cidade. Leia:
Jubiloso eu me comovo
com a magia que desaba
da gentileza do povo
desta Pindamonhangaba.
Vendo tudo cor de rosa,
num êxtase a gente baba
ante a festa carinhosa
desta Pindamonhangaba.
Eu juro que não sabia,
vivendo com gente braba,
que as lições de cortezia
vêm de Pindamonhangaba.
Neste recanto distinto
levantei a minha taba.
Em minha casa me sinto,
nesta Pindamonhangaba.
Vejo, com os olhos de escriba,
que, conforme a gente gaba,
no Vale do Paraiba
vale é Pindamonhangaba.
Hoje, sentado num trono,
mais forte que catuaba,
já me sinto um pouco dono
desta Pindamonhangaba.
E, senhores, satisfeito
com os fascínios da diaba,
como vós, bato no peito:
- Minha Pindamonhangaba.
Minha hospedeira tão linda,
que a gente não menoscaba,
se a trata apenas de Pinda,
dispensando o "monhangaba".
Como vós, guardo na trouxa,
do fundo do coração,
esta Pinda, terra toxa
do talento e da aptidão,
Esta Pinda ou este esteio
do progresso mais febril,
de onde Emílio Ribas veio,
para a glória do Brasil!
AUTOR: COLBERT RANGEL COELHO (1926-1976)
Publicado no jornal "Tribuna do Norte do dia 23.07.1967.