POEMA OU POESIA?

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POEMA OU POESIA?...

 

     Apesar da semelhança das palavras, poema e poesia têm significados distintos e próprios, mas muitas pessoas, inclusive poetas, se confundem quando expõem seus escritos.

    A poesia não é um estilo literário e sim a capacidade de uma obra de despertar emoções e sentimentos, sendo assim, podemos dizer que a poesia é a essência de um texto literário, de uma imagem, de uma pintura... é possível enxergarmos poesia na música, no nascer ou no por do sol, numa tarde de arrebol, nas flores, no riso de uma criança, numa declaração de amor... e o poema é uma composição literária que, quando carregado de poesia, nos instiga a imaginação. Assim sendo, podemos dizer que o poema é a concretização da poesia em palavras e, a poesia em si é a capacidade de uma obra de nos fazer perceber a sua essência. Ou seja, poesia é tudo o que utiliza recursos especiais para expressar significados. O POEMA É O RECIPIENTE E A POESIA É A ESSENCIA...

Abaixo temos um poema livre (sem rima ou métrica); um soneto e uma trova (rimados e metrificados) três  diferentes gêneros poéticos:

 

 

TELA NUA

   Edy Soares

 

Não, não foi o daltonismo dos meus olhos

que tirou as belas cores da poesia,

foram as paisagens que aos poucos desbotaram

pelo nocivo tocar das mãos humanas!

 

E desbotaram, assim, tão rapidamente

que ao despertar, vi as janelas vazias

- Quais telas das quais roubaram a pintura -

e se envergonham das paisagens nuas. 

 

Tombou, o verde, ao fúnebre golpe do machado,

a orquestra da selva em protesto emudeceu. 

A água, outrora farta a borbulhar na fonte,

não corre mais em sinuosos rastros. 

 

Roubaram-me as paisagens das janelas...

Diante delas plantaram

paredes nuas, sem reboco...

 

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IMPREGNADO

    Edy Soares 

 

Esvai-se, a vida passa… e de repente,

querendo ou não, a trilha da escalada

parece estar mais íngreme e a jornada

nos mostra que o cansaço é mais pungente.

 

Vai sendo, a chama, aos poucos apagada,

enfraquecendo o que era fogo ardente…

Se a morte, à espreita, ofusca a luz da gente,

a gente acende as velas pela estrada…

  

Qual monge, alicerçado em temperança, 

embora enfraquecido, eu não me rendo!

Enquanto houver vestígios de esperança,

 

nos labirintos deste mundo louco,

impregnado de morte eu vou vivendo;

e de vida, morrendo pouco a pouco.

 

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Os sábios nos tiram vendas

e nos mostram, dia a dia,

que os livros são oferendas

no altar da sabedoria!

     Edy Soares