Propostas para a Modernização e Democratização da UBT - parte 1

 

PROPOSTAS PARA A MODERNIZAÇÃO E DEMOCRATIZAÇÃO DA UBT

Parte 1

            Recentemente o trovador J. B. Xavier publicou um texto em que aludia ao problema da renovação da UBT e o envelhecimento paulatino da entidade, sob o instigante título “Por que um adolescente frequentaria a UBT”? Fiz, semanas depois, algumas reflexões sobre o assunto, mas deixei de fora algumas propostas que direta ou indiretamente contribuem para a discussão do tema. Será que adolescentes não frequentariam a UBT apenas por causa da diferença de idade ou de gostos musicais? A resposta é um sonoro NÃO. Além dos próprios interesses pertinentes à idade, adolescentes não frequentariam as reuniões da UBT por dois motivos: elas são CHATÍSSIMAS, a começar pela configuração do ambiente: com cadeiras enfileiradas, como se estivessem em sala de aula. E o que o adolescente menos quer é estar em uma “sala de aula” quando não está na escola, que ele – na maioria das vezes – só frequenta porque é obrigado. O adolescente também não frequentaria a UBT porque seus interesses (reais ou potenciais) não são democraticamente representados.

            Independente de haver jovens ou não, a UBT urge passar por um processo de modernização e democratização, se não quiser ver seu futuro comprometido. Aqui seguem algumas, na maioria frutos de conversas com trovadores de minha própria seção e de outros estados brasileiros.
 

1ª.) REFORMULAÇÃO DO ESPAÇO FÍSICO E DA DINÂMICA DAS REUNIÕES:

Muitas entidades culturais de cultivo à literatura fazem reuniões (a que na maioria das vezes chamam de “saraus”) com cadeiras em círculo, sem “composição de mesa” e nomeação de membros de “diretoria”. Não há “aberturas” solenes nem qualquer outro tipo de formalidade. O mestre de cerimônias (em alguns casos duas pessoas se revezam nessa função) fica no círculo junto com todos e, com o livro de presenças na mão, vai chamando as pessoas por ordem de chegada. No meio dos poetas, há músicos que levam violões e cantam um repertório extremamente variado, que vai de árias de óperas a tangos e boleros e do samba-canção a músicas de Raul Seixas ou Renato Russo. Nos vários saraus a que assisti, os grupos conseguem se autorregular e ninguém monopoliza o tempo.  No caso da trova, é plenamente possível que esse modelo seja aplicado, sem que as reuniões durem mais que 1h45 a 2h no máximo.
 

JUSTIFICATIVA:

Certa vez, conversando com um jovem poeta que fazia Letras, perguntei-lhe se não frequentava alguma entidade. Ele me respondeu: “Não gosto de formalidades nem de cerimônias”. Do jeito que as reuniões são feitas, nem eu (que já sou quase quarentão) suporto. Imagine um jovem. As reuniões, conforme feitas hoje, são extáticas e terrivelmente monótonas. Que haja pequenas palestras ou comentários sobre questões inerentes ao fazer poético e à trova, isso é altamente positivo. Tais inserções, porém, devem ter um tempo razoável e não cansar ninguém. A maior parte do tempo das reuniões deveria ser para os trovadores dizerem trovas, e não para ouvir falações. Com formação em círculo ou semicírculo, o ambiente fica descontraído e todos ganham. O mais é apenas um apego sem sentido a tradições anacrônicas.
 

2º.) ENTREGAS DE PRÊMIO MAIS “ENXUTAS”:

Que as entregas de prêmios de concursos e Jogos Florais sejam ocasiões solenes, não há objeção. A objeção é que demorem uma infinidade e que todos os membros da mesa tomem a palavra ao final, quando todos já estão cansados e não veem a hora do coquetel, do almoço ou jantar, seja qual for o cronograma. O tempo, como disse Guilherme de Almeida, “anda sempre e não repousa”. Trovadores ausentes que não indicaram previamente representante para os organizadores do evento não teriam suas trovas lidas. Só seriam lidas as trovas dos presentes e daqueles que nomearam representantes. Em 2011, a UBT de Friburgo deu uma excelente lição: no tema paralelo, chamou todos os premiados à frente de uma só vez, que formaram um círculo e leram suas trovas em forma de rodada. Sem dúvida, uma estratégia inteligente para se ganhar tempo. Palestras em trovas não deveriam durar mais que dez minutos. Dez minutos é tempo suficiente para um pequeno apanhado temático ou homenagem que se queira prestar. Ao final do evento, apenas três pessoas, no máximo, deveriam ser convidadas a tomar a palavra, na seguinte ordem: a maior autoridade municipal presente, isto é, o prefeito ou o secretário de cultura, o presidente nacional da UBT e o delegado ou presidente da seção. E só. Todos têm que ser humildes e reconhecer o momento em que é sábio dispensar os holofotes em nome de um bem maior. Um detalhe: Que comecem rigorosamente no horário prescrito, sem cinco minutos sequer de atraso, a menos que a autoridade política esteja atrasada e se tenha de aguardar sua chegada.

JUSTIFICATIVA:

As entregas de prêmios promovidas pela UBT, na maioria das vezes, começam com muito atraso, o que prejudica os eventos programados para a mesma noite ou no mesmo dia. Se a mesa tiver cinco pessoas, os cinco tomam a palavra e falam praticamente a mesma coisa em louvor aos idealizadores do evento... A mesma rasgação de seda compartilhada... Pessoas ficam cansadas (em alguns casos, com fome) e, com isso, ficam dispersas e propensas a conversas paralelas. Se convidados ou premiados precisam viajar logo em seguida (quando a entrega é realizada no domingo de manhã), acabam perdendo o almoço para viajar logo ou programam suas viagens para bem mais tarde, o que atrasa a chegada em suas cidades. Se houver algum jovem presente, quem em sã consciência acha que ele vai querer estar presente no ano seguinte?
 

3º.) MENOS TROVAS PREMIADAS E POR ORDEM DE CLASSIFICAÇÃO:

Consolidou-se o costume de quinze trovas: cinco vencedoras, cinco menções honrosas e cinco menções especiais. Esse costume é um verdadeiro disparate: qual é a diferença semântica entre Menção Honrosa e Menção Especial? Além de serem quinze, o que dobra para trinta se houver humorismo ou até sessenta, se houver um âmbito local ou estadual. Uma enxurrada. Outra coisa: a “ordem alfabética”. O nivelamento pela ordem alfabética não se justifica. Mesmo que uma pessoa fique em último lugar: ela tem o direito irrevogável de saber sua classificação!

JUSTIFICATIVA:

Alguns concursos literários promovidos por outras entidades possuem um formato muito interessante: três vencedores, do 1º. ao 3º. lugar, e até 7 menções honrosas, também em ordem de classificação. Esse formato, além de economizar espaço e recursos, é mais justo na concessão de prêmios. Que alguém tire o 10º. lugar... não importa. Importa é estar ali entre os presentes. O argumento de que todos são iguais é uma balela: trata-se de um concurso. Concurso é concurso e pronto. Se algum trabalho em derradeiras classificações é melhor do que um dos primeiros lugares, o tempo e a história poderão corrigir as distorções. Não é uma nivelaçãozinha por ordem alfabética que tornará o concurso mais “justo” ou “igualitário”. Retórica oca. Se um jovem tirar a 7ª. Menção Honrosa ficará feliz do mesmo jeito, se for humilde. E, certamente, se empenhará para um dia chegar ao pódio. Se desistir, lhe falta humildade. E os soberbos não são pessoas imprescindíveis. Outra questão: a UBT é movida pelos concursos e mede o talento das pessoas pelos seus troféus. Esse é um erro crasso. O mais importante não são os troféus, mas a divulgação da trova, assim como fez Aparício Fernandes no passado com a publicação de antologias com quota de participação. Hoje temos a internet. Para que mais? Apenas Nova Friburgo poderia manter seu padrão atual, por causa da tradição e da antiguidade do concurso, embora em um aspecto Friburgo seja irretocável: todos os premiados o são por ordem de classificação. Isso é justiça, não a ordem alfabética.
 

4º.) SEÇÕES E DELEGACIAS PRECISAM FALAR A MESMA LÍNGUA:

O Brasil virou “terra de ninguém”. Os concursos não têm a mesma padronização e isso gera distorções e insegurança. Não se trata de ditadura ou censura, mas de normatização, a fim de todos os participantes sentirem segurança e estabilidade e poderem organizar seu próprio calendário de composição e remessa.

JUSTIFICATIVA:

Não há razão lógica (nem estética, nem estilística, nem gramatical, ou seja lá que outra razão alguém possa conceber) para um concurso exigir que a palavra-tema conste na trova. Isso é uma violência contra a criatividade das pessoas. Todos são poetas, acima de qualquer coisa. E liberdade de criação é um dom inegociável. Quando uma entidade promove um concurso em que exige a palavra-tema na trova, comete uma violência simbólica contra todas as pessoas. Outro pormenor: data de carimbo ou data de chegada? Seria interessante que todos falassem a mesma língua e os prazos fossem regulados. Outro detalhe: Por que alguns concursos vencem na metade do mês se o final de um mês é um prazo muito mais prático?
 

5º.) COORDENAÇÃO DE CONCURSOS:

Friburgo e Curitiba dão um excelente exemplo para todas as  UBTs:  seus concursos locais são coordenados por outras UBTs. Em alguns casos, existem duas comissões diferentes: uma apuradora e uma julgadora. Isso dá credibilidade e transparência para os concursos.

JUSTIFICATIVA:

Embora eu não questione a ética de ninguém, há, no mínimo, um conflito de interesses se uma pessoa coordena o concurso destinado a trovadores de sua própria cidade. Deve o coordenador concorrer, uma vez que os julgadores são de fora? Deve uma diretoria selecionar as trovas de seus próprios associados que vão à julgamento, principalmente se houver trovas suas entre as participantes? Pensemos numa situação hipotética: eu sou da diretoria da minha UBT e coordeno o tema lírico dos associados da minha seção. De repente, dou sorte de duas trovas minhas serem premiadas e um trovador do mesmo nível que eu (ou melhor) não premiar. Não poderia isso gerar dúvidas quanto à minha ética ou à minha motivação? Se eu fizer parte de uma comissão apuradora, então, a situação é ainda mais delicada: é lógico que não vou querer eliminar uma trova minha, mesmo que não a identifique como tal! Se fosse para eu eliminar, não participaria, não é mesmo? Também não é justo privar os membros da diretoria de participar de um concurso local ou municipal, até sob o risco de baixar drasticamente o nível das trovas. Por isso, todos os concursos municipais ou estaduais deveriam ser coordenados por UBTs externas. Isso resolve qualquer dilema ético.
 

6º.) DIVULGAÇÃO DOS RESULTADOS:

Friburgo tem um expediente muito bom. A seção se reúne para abrir os envelopes com os resultados dos Jogos Florais. Exemplo para outras UBTs seguirem.

JUSTIFICATIVA:

Transparência é tudo. Não é justo que uma diretoria detenha uma informação sem compartilhar com os outros, que também pagam a anuidade e que sustentam a seção. Assim, todo resultado deveria ser divulgado em uma cerimônia aberta, em que o delegado ou presidente abre os envelopes na frente de todos os associados. Além disso, os mapas com as notas deveriam ficar a disposição de todos, para quem quiser conferir. Isso é transparência. Reitero: isso não é concessão, nem favor, nem bondade. Todos os associados pagam a anuidade e têm o pleno direito de ter acesso a todas as informações disponíveis. Não aceito que uma diretoria faça tudo sem prestar contas a quem a colocou na posição que ocupa! A UBT não é grupo esotérico nem sociedade secreta, embora haja quem pense o contrário...

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            Na verdade, ainda tenho várias outras propostas, que vou divulgar em breve na segunda parte.

NOTA: PROF. PEDRO MELLO É PROFESSOR DE LÍNGUA PORTUGUESA E MAGNÍFICO TROVADOR POR NOVA FRIBURGO.