Ainda acho que a Trova é Poesia, até que alguém me prove o contrário - 13.08.2008

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AINDA ACHO QUE A TROVA É POESIA, ATÉ QUE ALGUÉM ME PROVE O CONTRÁRIO   Pedro Mello (1)

I

        “DESSERVIÇO”. Quantas centenas de milhares de palavras tem a Língua Portuguesa, nossa “última flor do Lácio, inculta e bela”? Não sei. Ninguém será capaz de dizê-lo. Certa vez, um professor de Português com quem tive aula na USP, Prof. Heitor Megale, disse que a língua é um “inventário aberto”. Quase poética a expressão, se não fosse científica, creio que dispense explicações se pensarmos nela como um aforismo poético.

        Quando comecei na Trova, em 1998, eu tinha 21 anos e, embora já fizesse Letras, percebi nos meus contatos com o Prof. João Freire Filho, então Presidente Nacional da União Brasileira de Trovadores, o quanto eu era incipiente e o quanto eu tinha para aprender.

        Certa vez, referindo-se aos atropelos do dirigente de certa UBT, que a Ética e o bom senso me impedem de denominar, Mestre João Freire disse-me que o cidadão estava prestando um “desserviço” pela Trova. Confesso minha ignorância: jamais ouvira a palavra “desserviço” e ela me deslumbrou, porque, evidentemente, no mesmo instante percebi o sentido da palavra.

        DESSERVIÇO. Infelizmente alguns, em vez de prestar serviço para o engrandecimento da Trova e da UBT, acabam prestando um desserviço, como pretendo demonstrar ao longo deste artigo.

II

        Por que tão longa introdução, que – aparentemente – parece não se relacionar com título? Acompanhe minha linha de raciocínio.

       Querido Irmão Trovador que lê minha coluna, tenha algo em mente: Embora eu seja professor de português, não sou um “Aldrovando Cantagalo”, o personagem d’O Colocador de Pronomes, de Monteiro Lobato. A língua evolui, assim como a sociedade que a usa para sua comunicação. Como especialista em linguagem, não posso querer o ridículo de que todos tenham um conhecimento de teoria literária ou de outras disciplinas de um estudante das Letras ou que empreguem o português padrão em todos as situações de comunicação.

        NO ENTANTO, acredito (e ninguém há de me convencer do contrário!!!) que AQUELES QUE SE PROPÕEM A ORGANIZAR UM CONCURSO DE POESIA E, PRINCIPALMENTE OS QUE JULGAM (!!!) TÊM A OBRIGAÇÃO, O DEVER, DE, SE NÃO TIVERAM A ESCOLARIDADE MÍNIMA QUE É O ENSINO MÉDIO, PELO MENOS DE SEREM GRANDES LEITORES, DEVORADORES DE LIVROS DE POESIA (PRINCIPALMENTE) E DE ENTENDER DE POESIA!!!! Este é o conhecimento que muitos sabiamente chamam de “Universidade da Vida”. Conheço trovadores que não possuem sequer o Ensino Médio completo e que são TROVADORES com letras maiúsculas, donos de inegável talento e que nos legaram lindas trovas.

        A TROVA É POESIA, não um gênero menor, mas igual a qualquer outro. A síntese é mais difícil que a análise. Engana-se quem pensa ser mais fácil fazer uma trova que um soneto. (Mas isto é assunto para outro momento.)

        Ainda acho que a Trova seja POESIA e, portanto, quem organiza concursos de trova e, principalmente, seus jurados deve ter noções elementares de Gramática, de Versificação, entender de Métrica, de sinalefas, elisões, ectilipses, sinéreses, diéreses e todos estes aspectos que envolvem a elaboração de versos metrificados. Além disto DEVEM ter noções de figuras de linguagem, saber o que é uma metáfora, uma metonímia, uma hipérbole, uma antítese, um paradoxo, entre outras figuras, o que é intertextualidade e todos esses elementos que, se não aprenderam na escola, podem aprender em qualquer gramática escolar!

III

        Alguns próceres da UBT, com toda a razão, lamentam a partida de seus velhos amigos e o surgimento de poucos trovadores na esfera nacional. Concordo. No entanto, quem organiza um concurso de qualquer jeito, não sabe julgar ou entrega o julgamento a quem não POSSUI CULTURA LITERÁRIA, prestará aquilo que o Mestre chamou de DESSERVIÇO. Certos resultados deixam a desejar e, nas mãos de não-trovadores, podem passar a impressão de que a UBT reúne versejadores de quadrinhas toscas, popularescas, de velhos clichês surrados pela repetição exaustiva ao longo dos tempos.

        Portanto, quem organiza e julga um concurso de trovas sem saber o que está fazendo, sem competência ou tino para isto, presta um grande e lamentável desserviço pela UBT. E, creio eu, que a UBT neste século XXI precisa de notáveis serviços.

        Era este o ideal de Luiz Otávio. Não podemos deixar que a nossa tão amada Rosa-UBT murche por causa de gente que não entende de trova prestar desserviços pela nossa entidade.

        Que todos nós façamos cada vez mais Trovas e Trovas e Trovas... e jamais quadras sem valor...
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(1) Pedro Mello é professor de português, trovador associado da UBT – Seção São Paulo