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Lembranças da Rádio Friburgo III
Comecei a trabalhar na Rádio Sociedade de Friburgo em março de 1973. Trabalhava das 18h à meia-noite. E toda quarta-feira, às 21 horas, tinha o programa da UBT. E como podem imaginar, o assunto nessa época girava em torno dos XIV Jogos Florais. Eu era operador de áudio e ficava na técnica vendo e ouvindo aqueles caras entusiasmados falando de trovas, comentando sobre a programação do evento naquele ano etc. Eram Rodolpho Abbud, na locução, comandando o programa, com a participação de José Paulo Tavares, Aloísio Alves da Costa, Daniel de Carvalho, Clenir Neves, Cyrléa Neves, Nydia Yaggi Martins, Augusto Cláudio Ferreira e sua esposa, também trovadora, Odete Lapa Ferreira, e, algumas vezes, do proprietário da emissora, Dr. Aloysio Chaves de Moura, trovador e grande apoiador da UBT friburguense.
Na minha primeira noite em contato com aquela turma maravilhosa, fiquei atônito, sem entender nada. José Paulo Tavares, que sempre ficava depois do programa, batendo papo até o encerramento das transmissões da emissora, pacientemente me passou todas as informações. E foi assim que começou minha história na senda da trova.
Em 74 foi a festa dos 15 anos dos Jogos Florais de Friburgo. Eu, mais integrado, participava da preparação dos festejos, com a presença das candidatas à musa no auditório e até no estúdio. E como eram os XV Jogos Florais, todas as candidatas deveriam ter 15 anos.
O mais marcante desses Jogos Florais, para mim, foi a festa de despedida no Hotel Avenida. Como eu trabalhava à noite, não pude participar dos eventos noturnos daqueles Jogos Florais, mas naquela última noite, como a festa foi transmitida pela rádio, fiquei sozinho no estúdio ouvindo tudo o que se passava no local. No final, como acontecia sempre, houve a rodada de trovas. Naquela noite estava presente no hotel o cantor Roberto Rei, sucesso na época como cantor da Jovem Guarda. Roberto Rei, para quem não sabe, é autor de um dos grandes sucessos do Rei Roberto Carlos, “O velho homem do mar”. E mais curioso ainda, fiquei sabendo recentemente que ele era filho do magnífico trovador Elton Carvalho. Quem me disse foi a magnífica trovadora Maria Nascimento Santos Carvalho, viúva do Elton. Pois é, naquela memorável noite, eu, em meu solitário estúdio, ouvia a festa de despedida dos XV Jogos Florais de Nova Friburgo. De lá, do estúdio, podia sentir a vibração de Luiz Otávio, cantando trovas ao som do violão de Roberto Rei, com a melodia da música “La violetera”. A rodada de trovas começou por volta das 22h e se estendeu animadamente, passando da meia-noite.
Durante aquelas horas que durou a transmissão, enquanto eu ouvia o que acontecia no hotel, ficava imaginando as pessoas presentes, os semblantes felizes. E até me imaginava lá. Confesso que estava gostando do que ouvia. Era como se algo dentro de mim me dissesse que aquele era o meu mundo. Havia momentos em que até cantava junto com os trovadores a trova que conhecia. Eu, um jovem de 21 anos, àquela hora da noite, sozinho num estúdio de uma emissora de rádio, ouvindo umas pessoas cantando trovas ao som do violão de um cantor da Jovem Guarda, vibrando com tudo aquilo, era realmente engraçado. Mas era o que acontecia.
Nunca esqueci aquela noite. É como se tivesse acontecido ontem, tão clara está em minha mente a lembrança. Pena que atualmente não haja mais rodada de trovas nos festejos de Jogos Florais, nas festas de despedida. Acho que os organizadores deveriam pensar com carinho no assunto. É emocionante e marcante.
Bem, no ano seguinte, 1975, eu já participava da UBT de Nova Friburgo e fui um dos membros da grande comissão julgadora daquele ano, cujo tema foi “Encontro”. Meu nomezinho está lá, no livreto dos XVI Jogos Florais. E foi neste ano que vi o Príncipe Luiz Otávio pela última vez.
Em 1976, casei-me e fui morar no Rio de Janeiro. Alguns anos depois passei a freqüentar as reuniões da UBT Rio, na época na avenida Haddock Lobo, Tijuca, convivendo com os trovadores Carlos Guimarães, Marissol, Edmar Japiassu Maia, Maria Nascimento e tantos outros. E foi numa dessas reuniões que conheci a grande poeta e trovadora cega, Benedita de Melo. Mas isso é assunto para outra crônica.
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JOÃO COSTA é Delegado da UBT em Saquarema, Rio de Janeiro.
(Texto postado em 10.03.2012)