RAYMUNDO DE SALLES BRASIL nasceu em Santo Amaro/BA, em 31 de agosto de 1933, filho de José Bartholomeu de Salles Brasil e Maria Helena de Salles Brasil. Professor, poeta de refinada sensibilidade, tem um livro publicado: “Minhas Mal Traçadas Linhas” e outros três no prelo.
Nunca foi um ser normal
o poeta (alguém diria):
ele pega o que é real
e põe dentro a fantasia!
Ao que canta, basta o canto,
para carpir sua dor,
para derramar seu pranto,
basta a trova ao trovador.
Na minha grande fraqueza,
num poço fundo, sem luz,
descobri a fortaleza,
da mão firme de Jesus.
Depois de tantas andanças,
ao velho restam seus ais,
voltar a velhas lembranças,
recordá-las, nada mais.
A trova não tem ciência:
carece de intuição,
um pouco de inteligência
e de muita inspiração.
O belo sol nascediço,
vem de luz encher meu quarto;
eu acordo, e me espreguiço,
e agradecido me farto.
Quem me dera um dedo só,
o menor da minha mão,
da paciência de Jô,
da fé que teve Abraão.
Não teriam mais sentido
meus sentidos sem você,
pois fico todo perdido
quando um deles não lhe vê.
Tem três fases na gaveta
da vida de um velho pai:
a de rei, a de careta,
e a de bom, quando ele vai.
A cor dos teus olhos faz
o que só fazem os vinhos:
Me embriaga e é bem capaz
de embriagar os vizinhos.
Se tenho amor nas entranhas,
e se cultivo o perdão,
as suas faltas tamanhas,
perdôo-as de coração.
Eu não consigo ocultar
a dor que aqui dentro sinto,
se a boca tenta negar,
meus olhos mostram que minto.
Deus excede a imensidão
dos campos, dos céus, dos mares,
mas cabe em teu coração
se humildemente O buscares.
Se meu presente é tão bom,
eu devo muito ao passado,
ele foi que deu meu tom,
e me manteve afinado.
Somente tenho singrado
em águas rasas, serenas,
eu sou barco sem calado
e tenho velas pequenas.
Há certo tipo de amor
que a gente nunca se esquece:
na lembrança – morta a flor –
seu perfume permanece.
Não tenha medo, que o medo
irá levá-lo ao fracasso;
não meta apenas o dedo,
meta a mão, enfie o braço.
Se todos fossem iguais,
o que seria da gente?
- Eu posso ser um a mais,
mas você é diferente!
Quintana disse-me, a mim,
usando as suas facetas,
que eu cultivasse um jardim
e aguardasse as borboletas.
Um amante, um poeta e um louco,
amor, sonho, fantasia,
sou de cada um, um pouco,
não fosse assim, não vivia.
Quem ama vê atitudes
virtuosas no defeito,
e quem não, nem as virtudes
são enxergadas direito.
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