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Este primeirosoneto é um alexandrino que traz em seu ventre um decassílabo. Obedecendo cuidadosamente todas as exigências de ritmo e rimas. Lidos os versos até antes das barras temos um decassílabo e quando lidos na sua totalidade, os mesmos compõem um soneto alexandrino.
RECANTO DA SAUDADE
O paiol velho, a casa embaldramada / e rude,
o alpendre sextavado e os seus portais /de esteio;
uma pinguela que hoje está quebrada, /o açude...
São dos recordos meus os mais reais, / eu creio.
A história dos meus ais, se mal contada, / ilude,
quais tantas outras mais... que quanto mais / as leio,
eu vejo... Fomos pouco ou quase nada!.../ E eu pude?
- A vida começou sobre animais / de arreio!
Eu fico, aqui, com meus botões pensando / e aceito,
que um sertanejo só se entrega quando / o peito
rasga a saudade à luz do lindo céu / caipira,
pois lá na roça o céu com seu luzeiro/ encanta,
qualquer matuto, então, se faz violeiro / e canta
curtindo a noite sob o seu chapéu, / de embira!
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ATÉ QUANDO, BRASIL?
Meu Deus, por que não vejo mais lisura
entre os supostos homens de confiança?
Na pátria, cada vez mais insegura,
vejo morrer aos poucos a esperança!
Não vejo um grito ante este mal que avança,
nem respeitável toga, nem bravura,
neste país que deixa como herança
a lei plantada em funda sepultura.
Em aparente empáfia e arrogância,
avalizando os lucros da ganância,
há sempre um lobo em forma de cordeiro.
Não posso crer que tudo está perdido,
que a lei sustém um núcleo corrompido
e pague o preço, o meu país inteiro!
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OPRÓBRIO
Antes de dar-te aos corvos, morta e fraca,
hei de embeber-te na mais vil peçonha,
para que aquele que de ti disponha
morra do mesmo mal que ora te ataca.
Se há no teu chão, bastardo que te exponha,
e há sempre alguém que lucra e se destaca
em ver manchada a tua honra, opaca
ante os chorosos olhos de quem sonha,
morra contigo quem te extrai a vida,
para que a história seja um dia lida
e veja-se o respeito no teu porte.
E ao renascer, que teus novos rebentos
cresçam de mãos e corações isentos
do mal que outrora conduziu-te à morte.
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ETERNA BUSCA
De tanto correr pela vida, sem rumo,
deixei escorrer entre os dedos, a sorte,
em meus desacertos busquei o meu prumo,
dos meus cambaleios eu fiz meu aporte.
Se fui marginal ao projeto, eu assumo,
nāo ser presa fácil nem ferro que entorte,
forjei minha espada e, na espada, presumo
que ganha-se a vida ou entrega-se à morte.
Não hei de viver, nenhum dia sequer,
seguro em cabrestos que a vida me impõe
nem preso a cambões que destinam meus passos.
Sou filho do mundo e no mundo o que der,
será de bom grado e assim pressupõe
que livre hei de ser para acerto e fracassos.
NOTA DO SITE = Edy Soares é presidente da UBT no Estado do Espírito Santo e também da seção de Vila Velha. Grande trovador e sonetista.