Virgílio Brandão - Fortaleza

     VIRGÍLIO BRANDÃO nasceu em Fortaleza a 10 de junho de 1885. Era funcionário do Tesouro Nacional. Deixou dois livros: "Líricas" e "Redondilhas".
Faleceu em Fortaleza mesmo, em 12 de abril de 1943.

O sol que te ama a pobreza,
de raios toda te veste,
cidade de Fortaleza,
noiva do sol do Nordeste!

 

Basta a celeuma de um raio
aos que se dizem ateus,
para que sintam desmaio,
para que gritem por Deus!

Ah, nesta existência incerta,
de que vale o sonho alado,
se, quando a gente desperta,
a vida já tem passado?

Doçura, harmonia, tudo
que a mulher tem de carinho,
está na voz de veludo
da mãe que embala o filhinho...

Há diferença nas ruas

da miséria e da abastança,

mas é sempre igual nas duas

o sorriso da criança.

 

Coração que choras tanto,

acharás decerto, um dia,

no imenso mar de teu pranto

as pérolas da alegria.

 

Teu seio da cor da chuva,
cheiroso como um rosal,
deve ter o gosto de uva
das quintas de Portugal.

Ufanas ficam de si,
como num deslumbramento,
quando pisadas por ti,
as pedras do calçamento.     

 

–Eis a verdade corrida

nas sendas de toda sorte:

Se a morte sucede à vida,

a vida sucede à morte.

 

Guarda bem essa lição

em teus passos descuidados:

Pressa, falha e imperfeição

caminham de braços dados.

 

A história de toda gente

na eternidade é assim:

Provação primeiramente,

depois a glória sem fim.

 

O corpo diz ébrio e ufano:

– Domino e gozo tranqüilo!

Diz a cova ao corpo insano:
- Deixa estar que eu te aniquilo!

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NOTA: dados biográficos  extraídos do site  http://www.consciesp.com.br/