WALTER WAENY Júnior nasceu em São Vicente/SP, a 6 de dezembro de 1924, filho de Walter Joseph Waeny e da pintora Gilda Rienzi Waeny. Ingressou em 1945 no Banco do Brasil, onde trabalhou até aposentar-se, em 1975. Casou-se em 22.05.1950, com Maria Clélia Dias Waeny, com quem teve nove filhos. Em 1958 foi um dos fundadores do Clube de Poesia de Santos, além de ter pertencido à Academia Santista de Letras (cadeira 33)e ao Instituto Histórico e Geográfico de Santos. Publicou mais de 80 livros, a maioria de trovas. O primeiro foi em 1947, quando contava apenas 22 anos. Seu nome representa um marco na história da Trova, como dirigente municipal e estadual, além do seu talento natural como extraordinário trovador que sempre foi. Faleceu em 04.06.2006
LÍRICAS E FILOSÓFICAS
Festa no asilo. E contesta
o velhinho, com razão:
- Depois de um dia de festa,
um ano de solidão.
Quanta gente boba e fátua, (Venc. Cruzeiro 1964)
sem civismo nem moral,
aspira por uma estátua
e nem vale o pedestal.
N'alma, a esperança reflete
uma risonha mentira,
pois é o que a vida promete (4º lugar em Pouso Alegre - 1961)
em troca do que nos tira...
Louvas meus versos risonhos, (Menção Especial UBT Rio de Janeiro - 1980)
lidos hoje,em toda parte,
e é, com sucata de sonhos,
que eu forjo essas obras de arte!
Vitoria nem sempre é quando
se pode vencer alguem:
as vezes, morrer lutando
é uma vitoria tambem.
Se as opiniões são diversas,
em torno aos homens famosos,
as críticas mais perversas
vêm sempre dos invejosos.
As noites! Que gosto é vê-las,
vendo vagar, tão risonhos,
neste céu cheio de estrelas,
teus olhos cheios de sonhos!
Ela se foi, porém vi
que jamais me abandonou
quem deixou tanto de si
na saudade que deixou...
Não te prendas mais à dor
nem lembres quem te esqueceu,
pois quem quer morrer de amor
vive do amor que morreu.
Para não desanimar
na vida, é preciso ter
coragem para ganhar
e calma para perder.
No baile animado e amigo (co-vencedora em Tambaú/SP - 1986)
deixei tristeza porque
levei a festa comigo,
quando saí com você!
Lembram, na vida, os segredos, (Menção Honrosa em Tambaú/SP - 1985)
em lição que fundo cala:
água escorrendo entre os dedos
de quem, nas mãos, quer guardá-la!
Angústia de amor... Comprove (Menção Honrosa em Ribeirão Preto - 1977)
este fato, no porvir:
na sua idade - comove,
na minha idade - faz rir...
Sem que, ao fazê-lo, se afoite, (1º lugar em Três Rios/RJ - 1977)
tira o sol, mestre em magia,
dessa cartola - que é a noite,
a pomba branca - que é o dia!
Faze o bem. E ao terminar
a vida, agindo direito,
se, de ti, nada restar,
resta o bem que houveres feito.
Segue o poeta, pela estrada,
como o balão segue, além:
- solidão iluminada
pela chama que a sustém.
Lei que é honesta não susta
o seu castigo aos velhacos:
qualquer lei se torna injusta
quando só se aplica aos fracos.
No amor, mais triste que o fado
de não ser correspondido,
é deixar de ser amado
depois de já tê-lo sido.
Há quem diga que poupar
jamais enriquece alguém,
mas quem só pensa em gastar,
gasta o que, às vezes, não tem.
Nosso nome ela gravou
num tronco. E, de nós, se diz:
- Desse amor que não ficou,
há, nos três, a cicatriz.
O poeta é como a roseira
que vive pelos caminhos
e floresce a vida inteira
para esconder seus espinhos.
Não é por falsa virtude,
mas, beijar-te, não espero:
antes, eu quis e não pude,
e agora, posso e não quero.
À minha vida cruel,
não trouxeste um novo olor:
foste uma flor de papel
fazendo papel de flor.
Se trovador hoje eu sou,
é que lembro, numa queixa,
quem se foi e me deixou
este mal que não me deixa.
Quem tem talento e se esquece
de usá-lo em favor do bem,
é um covarde: não merece
ter o talento que tem.
Nossa alma sempre se exalta
sonhando em vão, pois vivemos
muito mais do bem que falta
do que do bem que nós temos.
Em todos os beijos meus,
o beijo mais puro e santo
foi dado ao dizer adeus
ao pai que eu amava tanto!
Deste-me a rosa. E, a rigor,
não sei o que mais me agrada:
a flor que me deu a flor
ou a flor que me foi dada.
No terreno estreito da alma,
felicidade não cabe:
quem quer tê-la - não tem calma,
quem é feliz - não o sabe.
Nesta vida, eu sempre digo
que a amizade é um grande bem
para quem é um bom amigo
dos bons amigos que tem.
Certos heróis que a tortura
do revés devem sofrer,
morrem com tanta bravura
que não deviam morrer!
De mãe, renegar o amor,
é gesto próprio de quem
não sabe o que tem valor
nem o valor que ela tem...
És flor de uma graça infinda,
minha filha e meu amor!
Ah! nem mesmo a flor mais linda
é mais linda que esta flor1
Velho búfalo que tenta
sua manada salvar,
ao longe, o rochedo enfrenta
a fúria insana do mar!
Há tanta graça na folha
do acanto nobre e distinto,
que foi a causa da escolha
dos capitéis de Corinto.
Faze o bem..E, satisfeito,
nem contemples o seu brilho,
pois o bem deve ser feito
como o bem que é feito a um filho.
Eu amei... E quanto amor
perdido pelos caminhos...
- Se, nas mãos, tive uma flor,
só guardo, na alma, os espinhos.
Quem morre, vai e não volta,
mas na saudade, ao lembrar,
morre-se à espera da volta
de alguém que não quer voltar.
Rude, irritado, num berro
de luz, lindo sol, te elevas,
rompendo as grades de ferro
do teu cárcere de trevas!
Saudade - dor traiçoeira
de quem ama, sem querer,
e, assim, morre, a vida inteira,
do que não pôde viver.
Pobre flor! O vento a embala,
e ela nem sequer presume
que ele, fingindo afagá-la,
vai roubando o seu perfume!
A solidão rege o mundo,
e, no mundo heterogêneo,
é do seu ventre fecundo
que nascem homens de gênio!
Que o ensino sempre se gabe,
é mister: cumpre o dever
quem dá valor ao que sabe
fazendo alguém mais saber.
"Até que os separe a morte"
diz a frase estranha e avara.
- Se, na vida, o amor é forte,
nem mesmo a morte os separa.
Se o elogio faz feliz
e causa um prazer infindo,
quase sempre quem o diz
não diz o que está sentindo...
Vives, agora, com ele,
porém, desses beijos teus,
os que recebes - são dele,
e os que lhe negas - são meus.
O triunfo imerecido
é um estranho dissabor,
pois não humilha o vencido
nem exalta o vencedor.
A lágrima se desmancha
quando volta, ao rosto, a calma.
- Não deixa, no rosto, a mancha,
porém deixa a mancha na alma!
A vida é uma eterna busca,
e todavia, meu bem,
o bem que, às vezes, se busca,
não vale o que já se tem.
Destino verde, entre abrolhos,
cabe, ao rio e a mim, buscar:
eu - perder-me nos teus olhos,
e ele - perder-se no mar!
Este amor silenciado
mas que, em segredo, cintila,
é um diamante encerrado
no seu cárcere de argila.
Nem a melhor das escolhas
pode impedir que a ilusão
tenha o destino das folhas
que o vento arrasta no chão...
A luz do sol se revela
tão bela que, assim, ao léu,
lembra lâmpada amarela
na arandela azul do céu.
Nem o artista mais brilhante
é capaz de retratar
a beleza impressionante
da tempestade no mar!
No instante da despedida,
quem se afasta, de alma em festa,
leva mais, de nossa vida,
do que a vida que nos resta.
Fitar, assim, tanta gente
qual torrente, causa dó:
multidão é, simplesmente,
muita gente que vai só.
Canário! Não te consola,
no teu presídio, o arrebol,
pois as grades da gaiola
retalham a luz do sol.
Mar! Todo poeta costuma
fazer-te versos, risonho...
- morres em flocos de espuma,
vives na espuma de um sonho!
É, muitas vezes, por teima,
fitando a luz flava e bela,
que a mariposa se queima
na chama inquieta da vela.
Julgando que nada valho,
nos teus castelos risonhos
usaste, como cascalho,
a esmeralda dos meus sonhos!
Se, à tarde, o sol se atenua,
serve, a lua, de crisol,
pois, sem ter luz própria, a lua
romantiza a luz do sol.
Toda rosa tem espinho,
mas, ao ver-te rancorosa,
às vezes digo sozinho:
- Quanto espinho numa rosa!
Quem desta vida se eleva
e é lembrado, numa queixa,
custa a alegria que leva
mais a saudade que deixa.
Seu pincel na alma florida
molhando, o poeta se esmera
em dar, à neve da vida,
as cores da primavera.
Olho a folhinha por vício,
consulto-a nem sei por que,
pois todo dia é propício
para pensar em você...
Seja a verdade qual for,
dize, rosa dos caminhos:
tens espinhos por ter flor
ou tens flor por ter espinhos?
Da saudade - que ironia! -
há gente que fala bem,
como se fosse alegria
sofrer por causa de alguém...
Da arte sempre se socorre
um triste amor como o teu:
vive, na arte que não morre,
um amor que já morreu.
Os caramujos moídos,
que jazem na areia calma,
são como sonhos perdidos
enfeitando as praias da alma!
Por entre as ruínas vedras,
nós conversamos, a sós,
mas o silêncio das pedras
fala mais alto que nós.
O sol, sorrindo, secou
essas lágrimas de amor
que, à noite, a lua deixou
na taça de cada flor!
Nasce o dia. E num dispêndio
de luz, o sol, vindo ao léu,
lembra o clarão de um incêndio
queimando as trevas do céu!
Esse orvalho de mil cores
que há nos campos, no arrebol,
são as lágrimas das flores,
saudosas da luz do sol.
Sou mestre, desde menino,
nessa questão de beijar:
é matéria que eu ensino
pelo prazer de ensinar...
Nesta vida triste e inquieta,
tropeçando, às vezes, penso
que o caminho em linha reta
é o caminho mais extenso.
Se uma planta, às vezes, medra
sob uma pedra, e dá flor,
no teu coração de pedra
não medra a plantra do amor.
A lua, com seus enredos,
em luz branca se derrama,
tamborilando os seus dedos
no lençol da minha cama.
Gosto de beijo sincero,
dado com ânsia ou respeito.
Beijo roubado - não quero,
e de favor - não aceito.
Se, acaso, é pela metade
a honestidade, eu diria:
não é meia honestidade,
é meia velhacaria...
A saudade, quando ocorre,
sempre causa tanta dor!
Saudade - mal de que morre
quem já morria de amor!
Trova é gota - ouvi dizer -
mas é gota singular,
pois nela deve caber
tudo o que cabe no mar!
À minha vida cruel,
não trouxeste um novo olor:
foste uma flor de papel
fazendo papel de flor.
Há poças, na areia, a espaços,
como se a praia, ao luar,
aprisionasse, em seus braços,
um pouco da alma do mar!
De nós dois falo sem medo
e nada escondo, porque
todos sabem que o segredo
da minha vida é você!
Dizem que a fúria é vermelha
mas não posso acreditar,
porque nada se assemelha
à fúria verde do mar!
Lua e sol, de déu em déu,
vagam, ao longe, com ânsia.
- Tristão e Isolda do céu
que se amam sempre à distância!
O vento, irrequieto e leve,
movendo as nuvens com a mão,
tece uma renda de neve
no bastidor da amplidão!
A desistir deste amor
aconselha-me a razão
mas eu te peço um favor:
convence o meu coração!
HUMORÍSTICAS
Quase tudo o que te disse
num dia de primavera,
lembrado agora é tolice
mas, quando eu disse, não era...
“Quero a mala”! Porém ela (Menção Especial Porto Alegre - 1985)
não entendeu minha fala:
preciso da mala dela
e não dela, para amá-la...
Cliente mau e arrogante,
jogando só jogo baixo,
"despachou" o despachante, (6º lugar em Fortaleza - 1985)
que não quis fazer despacho...
Sempre que pago com cheque,
talvez porque se apaixone,
a caixa, com ar moleque,
indaga o meu telefone...
Mulher que ri das promessas
de amor, e não quer amar,
acaba casando às pressas,
com medo de não casar...
Perguntam admiradoras,
onde aprendi a beijar.
-- Tive muitas professoras
e fui aluno exemplar!
Gorda, vulgar, tagarela
e com uns modos medonhos!
-- E dizer que, um dia, aquela
foi a mulher dos meus sonhos...
A vaidade da mulher
é tão grande, que contrista,
pois, até quando vai ver,
ela pretende ser vista...
Diferente da mulher
e bem menos calculista,
o homem sai quando quer ver,
e a mulher, se quer ser vista...
Finge não ver-me... E eu me valho,
com júbilo, deste ensejo,
porque me poupa o trabalho
de fingir que não o vejo...
O vadio franze o rosto
e de furor mostra um ar,
quando alguém tem o mau gosto
de mandá-lo trabalhar...
Mulher bonita que tem
homens demais, em redor,
por certo se veste bem
ou se despe ainda melhor...
Não há exagero algum:
eu sei de muita mulher
que casou com qualquer um
por não querer um qualquer...
"Se, por acaso, a presente
às suas mãos não chegar,
peço, encarecidamente,
o favor de me avisar..."
No teu anel de doutor
há uma pedra. E há quem comente:
- "Pedra que o teu professor
atira no teu cliente..."
Que é sedutor contumaz,
ele diz: não se amedronta.
Mas se ele conta e não faz,
a mulher faz e não conta...
Teu topless, lindo brotinho,
causa muita sensação
e tira do bom caminho
os poucos que nele estão...
Busto é coisa que, sem bulha,
a mulher moderna e gaia,
escondida em casa, embrulha
e desembrulha na praia...
O nariz extravagante
que uns exibem, com entono,
nada mais é que uma estante
para os óculos do dono...
É casada e se oferece
de maneira nada casta:
já tem dono e me parece
que esse dono não lhe basta...
À modelo, ninguém poupa
os encantos que ela tem:
a mulher - lhe admira a roupa
e a gente - a imagina sem...
Brasileiro não se aperta
e tudo se arranja, pois,
no Brasil, a hora certa
é meia hora depois...