Wandinha, muito obrigado mesmo:
“Homenagem prestada, pela trovadora Wanda de Paula Mourthé, a José Fabiano, na reunião da UBT – BH, no dia 11/09/2006"
11 de setembro... Dia nefasto em que, cinco anos atrás, ocorreu o genocídio que foi o ataque às torres gêmeas do World Trade Center! Mas, hoje, para nós, que o dia fique marcado pela alegria desta reunião plena de fraternidade e de trovas, como são sempre as da nossa UBT. E alegria adicional por termos conosco o nosso querido José Fabiano.
Em recente conversa com o homenageado, disse-me que sua origem humilde é seu maior orgulho e o que mais gostaria fosse destacado em sua biografia. Com razão, pois isso só aumenta seu mérito: vencer na vida é certamente mais fácil para quem nasce em berço de ouro do que para quem tem que enfrentar os percalços inerentes a um lar pobre. E Fabiano é um vencedor: como profissional, como chefe de família e como poeta. Formou-se em Ciências Contábeis e Atuariais pela UFMG, e é Auditor Fiscal da Previdência Social, aposentado. Constituiu belíssima família: viúvo de Maria da Conceição Lepesqueur, Fabiano tem 5 filhos e 12 netos. E como trovador é conhecido, admirado e estimado no cenário trovadoresco nacional. É também grande pela nobreza de sua alma, sempre disposto a ajudar a quem necessita. Nada melhor que uma de suas trovas para ilustrar essa afirmação:
Conserva sempre contigo
a palavra que conforta,
para dizê-la ao amigo
que bater em sua porta.
O grande Trovador, segundo Izo Goldman, não é só aquele que ganha concursos, acumula troféus, mas, principalmente quem trabalha pela Trova e pela UBT. Fabiano tem, incansavelmente, divulgado esse pequeno poema em seus livros, alguns dos quais em generosa parceria com grandes trovadores e prefaciados igualmente por nomes ilustres na Trova. Modesto, ele não escolhe as trovas que vêm a lume, deixando essa tarefa a cargo dos prefaciadores, que, em geral, se dizem em palpos de aranha para selecioná-las, tamanha é a fertilidade do autor. Publicou os livros: Peregrinando Trovas, Caixinha de Trovas, Ao Pôr-do-Sol, Ao Som da Lira, Respigando Trovas, Do Meu Rascunho de Sonhos, Rosas de Outono, Dueto (parceria com Neide Ronha Portugal), Emoção e Razão (com Thereza Costa Val), E agora, José...s? (com José Ouverney), todos de trovas e, de sonetos e outros poemas, Mulher, A Aurora e o Poente (com Heloísa Zanconato), O Profano e o Sagrado (com Miguel Russowsky) e Sonetos de mãos postas, com grandes sonetistas brasileiros.
Dotado de grande versatilidade, Fabiano sente-se à vontade nos diferentes gêneros de trova. Nas filosóficas, adota ora um tom sentencioso, ora um tom epigramático, sempre com grande riqueza de imagens. Mas deixemos que em vez de mim falem seus versos...
A concórdia não se faz
cultivando a covardia.
Não confunda a cor da paz
com o branco da anemia.
Mostrarão progressos falsos
as cidades adiantadas,
enquanto houver pés descalços,
em suas ruas calçadas!
A bússola da cabeça
dá-nos firme direção,
desde que não desconheça
o norte do coração.
Poucos na escada da vida
podem fazer a ascensão,
sem que muitos na subida
lhes sirva de corrimão.
Há gente que nada atua
e é notícia volta e meia.
Tem o destino da Lua,
que brilha com luz alheia.
Pela cidade quem ande,
algo verá que dá pena:
vendedor de sorte grande
como tem sorte pequena!
Se desejas comandar,
dos passos mede o tamanho.
O pastor não deve andar
mais depressa que o rebanho!
Caso um dia o homem consiga
a si mesmo conhecer,
duvido que ele então diga
que teve “muito prazer”...
Jesus se deu de tal sorte,
para deixar-nos libertos,
que, mesmo enfrentando a morte,
manteve os braços abertos.
Claro que, com sua veia satírica, ao repertório do Fabiano não poderiam faltar as trovas humorísticas, feitas com muita verve e sutileza:
Em lendas da Humanidade,
a maça teve sua vez:
com Newton e a... gravidade
e com Eva e a... gravidez!
Não desejo ser grosseiro,
mas o rosto da vizinha
mais parece galinheiro:
como tem pés-de-galinha!...
“Desaforo para casa”
que casado levará?
Depois que a gente se casa,
sempre há um bom estoque lá...
“Estarei sempre contigo”,
se acaso a Dor te disser,
não tenhas receio, amigo,
é promessa de mulher...
A leoa, ante os carinhos,
do companheiro machão,
vive dizendo aos vizinhos:
- É dose pra leão!...
“O livro está sua cara!”
eu lhe assegurei, risonho.
Foi a forma menos clara
de dizer que está... medonho!
Acho que a monogamia
vem deste fato, talvez?
mulher e cruz, noite e dia,
uma só de cada vez...
Para aquele que envelhece,
as coisas se tornam feias:
o que no corpo endurece
são, infelizmente, as veias...
Fabiano, no fundo, é um romântico e, como tal, faz belas trovas líricas:
Por que vou sentir receio
de um dia desencarnar,
se não existe outro meio,
meu amor, de te encontrar?...
Nasci tão longe do mar,
mas onde estou posso vê-lo
no verde do teu olhar,
nas ondas do teu cabelo!
Quando estás a caminhar
na praia, invejo as marés,
que são desculpas do mar
para beijar teus pés!
“Não vou morrer de repente”,
te juro e não estou louco,
pois me deixas tão carente,
que morro, mas pouco a pouco...
Das trovas descritivas de Fabiano, citarei apenas uma, pois é tão primorosa que será suficiente para dar idéia do seu talento poético:
Quando a noite estende a sombra
na Terra, que agora é sua,
o céu se torna uma alfombra
para o desfile da Lua!
Se meus elogios foram dirigidos ao Trovador, quero agora, terminando, homenagear o amigo. Fabiano, como ele próprio declara em seu livro Mulher, é torcedor apaixonado do Cruzeiro. Eu, ao contrário, sou apaixonada pelo Atlético Mineiro. Por isso, somente o grande carinho e amizade que dedico ao Fabiano tornam-me capaz de dizer a seguinte trova, linda – apesar de uma rima toante – feita por um outro amigo, Newton Vieira.
Que meu Galo me perdoe!
‘O Cruzeiro, sempre em alta,
vencendo de norte a sul,
repete a voz do astronauta:
- O planeta é todo azul!’
Wanda de Paula Mourthé”
Saudações cruzeirenses,
José Fabiano.