JOSÉ DE SOUZA (Zé de Souza ou Zé da Viola), Paulista – PB, 13-08-1940, começou a cantar aos nove anos de idade, e já enfrentando cantadores de fama como seu parente Belarmino de França, Dimas Batista e outros, que, ao mesmo tempo, lhe ensinavam o caminho das pedras, nos campos do repente. O Nordeste perdeu, em Zé de Sousa, uma grande vocação de repentista, porque ele, envolvido com estudos e trabalhos, fora do meio sertanejo, abandonou a cantoria, formou-se em jornalismo, casou-se e foi residir em Goiânia – GO, de onde voltou para Natal somente em 1998, para reviver os tempos da viola, cantando vez por outra e ouvindo cantadores. Desde cedo já demonstrava muito humor e presença de espírito nos repentes, qualidades que sempre lhe apimentaram os versos, escritos ou improvisados.
Em Natal o poeta entrou em contato com os trovadores e passou a explorar a trova com mais intensidade, principalmente depois de seu ingresso na Academia de Trovas do Rio Grande do Norte. Conheçamos, pois, esse inspirado poeta paraibano.
O repentista:
Certa ocasião, cantando com seu conterrâneo Cícero Ferreira, dele recebeu deixa interrogativa:
“Me diga, na sua casa,
o que é que tem pra comer.”
Zé de Sousa respondeu aludindo aos efeitos flatosos da pesada comida sertaneja:
“Vou já pra casa comer
feijão, cuscuz, tapioca;
por cima inda vou botar
batata-doce e paçoca,
que aquilo serve demais
para espantar muriçoca.”
O trovador:
O homem não se intimida
nem vê, nos pecados seus,
que o bem é dote da vida
e que a vida é um dom de Deus.
Este torrão soberano
nos deu esta primazia:
no mundo, um Natal por ano,
aqui, “Natal” todo dia.
De tudo um pouco faltando,
a coisa ficando preta:
são queimadas acabando
Fauna e Flora do Planeta!
Disse o bebum Chico Sêba,
quando escutou um reclame
- SE FOR DIRIGIR, NÃO BEBA:
- mas se for beber me chame.
A mulher, belo animal,
a muitas coisas se atreve:
até o fio dental
ela enfia onde não deve.
Com fé, retidão e calma,
tudo que é mau se liquida...
Lá no céu tem salva a alma
quem na terra salva vida.
Tive, e na lembrança trago,
da tua voz, a carícia;
das tuas mãos, todo o afago;
dos teus beijos, a delícia.
Meu primo não se aperreia:
na testa não tem adorno...
Marido de mulher feia
não tem medo de ser corno.
Já fiz tudo quanto pude
pra viver saudavelmente,
mas meu plano de saúde
me deixa o bolso doente.
Se quer que eu lhe dê meu nome,
vamos, juntinhos, viver.
Iremos juntar a fome
com a vontade de comer.
O sujeito se aperreia,
fica doido e chateado:
marido de mulher feia
tem raiva de feriado!
Não sei se é desdita minha:
na sorte não me destaco.
“É Deus me dando a farinha
e o diabo rasgando o saco”.
Com Deus quero me cuidar...
Que o diabo morra de sede.
Santo que não me ajudar
não penduro na parede!
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Crédito da Matéria ao Poeta José Lucas de Barros.