"EU VI MINHA MÃE REZANDO..."
Um conjunto de oito quadras constitui o poema intitulado "Mãe", de autoria do médico pernambucano Barreto Coutinho. Das oito estrofes, pelo menos seis delas têm sentido completo e independente. Daí que a quinta estrofe desgarrou-se das demais e, com ligeira alteração, tornou-se a "celebridade da família", a ponto de seu autor até hoje ser identificado por essa trova, uma das mais conhecidas, se não a mais conhecida no Brasil, em todos os tempos. A ponto de muitos autores, ao longo do tempo, terem composto muitas trovas (e até feito paródias) bem ao estilo da trova abaixo:
Eu vi minha mãe rezando
aos pés da Virgem Maria.
Era uma santa escutando
o que outra santa dizia...
E do poema completo, publicado pela primeira vez no jornal "A Província", de Recife, em 18 de janeiro de 1912, pouco se fala. Barreto Coutinho, que viria a falecer em 1976, apesar de nascido em Recife, radicou-se em Curitiba, a ponto de alguns confundirem, achando que ele seria paranaense. O poeta residiu, por muito tempo, à Rua Alfredo Bufren, 86, aptº. 14-B.
Seu poema completo foi publicado por Luiz Otávio no jornal da UBT: "Trovas e Trovadores", em fevereiro de 1968. Ei-lo:
MÃE
Barreto Coutinho
Mãe – alma querida e santa
– astro de divino brilho,
cuja luz a treva espanta
dos dissabores do filho.
Mãe – criatura tão cara,
do filho o mais santo altar...
– Quem perde essa gema rara
nunca mais há de encontrar!
Mesmo as aves, essa eterna
verdade mostram nos ninhos:
que se fez a alma materna
de amor, ternura e carinhos.
Quando a sorte me arremessa
às mágoas, elas têm fim,
pois minha mãe nunca cessa
de pedir a Deus por mim.
Uma vez vi-a rezando
aos pés da Virgem Maria.
Era uma santa escutando
o que outra santa dizia...
Se uma coisa me tortura
e o pranto aos olhos me vem,
minha mãe – santa criatura
chora comigo também!
E então nos seus olhos leio
meu pranto o que há lhe causado:
– Só mágoas ao santo seio
que a dor tem santificado!
Por vossa infinda bondade,
Deus que eu creio e reconheço,
dai, pois, a mais longa idade
ao ser que eu tanto estremeço!
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* Publicado por Luiz Otávio no jornal
Trovas e Trovadores, da UBT,
no Rio de Janeiro, em fevereiro de 1968
** A ligeira alteração a que me refiro no texto acima é que o original "Uma vez vi-a rezando" acabou se convertendo e se notablilizando como: "Eu vi minha mãe rezando..."